sexta-feira, maio 28, 2004

Na inquietude da minha Ressureição

Sou a imagem decadente do meu reflexo
Quando um cheiro fétido emana da impotência pungente.
Sou uma arma a disparar sem cano
Pelo que cerro os olhos como quem não quer ver a dor.
Incapaz, não consigo saber qual o lado do espelho.
Eu...não consigo...

De mãos atadas, moldo o barro dos meus dias
Que coso com a sede de saliva cáustica sempre a queimar,
Sem jamais a conseguir engolir.
Ardo quando me procuro sem nunca estar onde espreito.
Sou volátil! O meu corpus encolhe e dilata pela combustão.
Mas este, não é um processo fisico.

Não existem alquimias para estas dores!
E duvido que se fabriquem contraceptivos fiáveis.
Portanto, escondo-me nas ruas localizadas da cidade,
Por muito menos, saberei onde estou fictíciamente.
Ardentemente. Exasperadamente. Ruídosamente eu te digo:
Talvez consiga...
Sim!...
Talvez consiga!
Talvez.......

terça-feira, maio 25, 2004

Eu

Eu,
Eu sou Castanha
Sou Chuva, sou Granito
Sou verdejado pela Giesta
Sou azulado pelo Oceano
Tenho veneno nas veias
Do ar que me corre nos pulmões
A noite acalma-me
O dia enerva-me
Sou assim!

E Agora...

Sem tomar atenção a um momento
Sem necessidade de definir um espaço
Prefiro perder-me sem pontos de referência
sem linhas, sem momentos, por ocasos
Fico algures onde me aperta o peito
Suavemente nos becos da imaginação
Mais cego que de olhos fechados
Entre o adormecer e o despertar
Enleado em cabelos brilhantes
Ou olhos como dois Sóis na escuridão
Caminho perdido no teu sentido
Navego ao sabor do teu sabor
Deixo-me cair porque julgo ver teus braços
Porque me agrada a ilusão
Penso-te sem mais motivos do que sentir-te
Sentir-me a sós contigo
Perco-me na curva dos teus lábios
Escondo-me na esquina do teu pescoço
Mas a verdade é que desato a fugir
Atiro-me para o escuro a correr
Onde tu conheces todas as ruas em que me escondo
Como poderia fugir-te?
Tu estás onde eu estiver
Sempre presente
Sempre dentro de mim

Aos poetas

Não me importa o que escreves
Não me interessa a tua escrita
O que mais desejo é que me toques
O que mais quero é que me sirvas

...

Fundo azul, com tons esverdeados
Lembrando o Oceano, o nosso Atlântico
Surges por todo o lado, bem no centro
Bem fundo e até surges por cima
Abraçada a mim num doce cantico
Pintamos o amor de olhos fechados

Fidelitas

Tenho apenas um amor
Sou-lhe cegamente fiel
Só por ele traio as minhas paixões

Liberdade

Acordo como um pedinte
Peço para sobreviver
Peço para me embriagar
Espero o dia seguinte
O que mais pode haver
Sofro a sede de procurar
Cuspo na morte não lhe tenho medo
Cuspo na sorte não lhe devo nada
Do mundo fiz minha casa
Pois é a forma mais certeira
De escolher de novo a mobilia
De me livrar da familia
E por fim
Passar tudo por uma peneira
Acordo como um pedinte
Peço para sobreviver
Peço que me deixem em paz
Quero sentir, quero-me embriagar
É tudo o que peço por fim

...

Lembrei-me que nunca te disse o que vou dizer
Por egoísmo ou por cobardia, ou mesmo inépcia
Mas a tua boca é absolvição dos meus demónios
Os teus olhos a paz para a minha insconstância
E ser teu amante é algo com que nunca soube sonhar
Quando me deito ao teu lado sou mais belo
Aprendo a fazer sonhos com as pontas dos dedos
Abro-me suavemente, ergo a cabeça lentamente
E grito, grito num suspiro pulmonar, muscular
Liberto a alegria infantil esquecida por lutas
Esquecida por dores. E sabendo que és tu
És Tu que estás comigo
Todas as feridas saram neste imenso animal
Tu fazes-me mais belo no teu calor viciante
Repousando frágil nos teus olhos castanhos
Em verdade, acho que nunca me tinha confessado
É que hoje ao teu lado acordei mais humano

Negligência Humana

Pássaros aos milhares batem asas para o Fogo
Aos milhares eles tombam aos milhares
Chocam entre si no frenetismo de penas nervosas
A fogueira adensa-se como que gigantesca
Engolindo tudo o que ainda parece voar
Milhares obcecados por milhares
Por Labaredas cortantes alegres de ouro
Quando outros morrem aos milhares

balada

João Pestana, a balada está quase completa, e eu continuo á espera.
Tu sabes que eu nem gosto de deixar recados no Post Tergum...



Rebentem ondas.
Rebentem ondas contra estrelas,
Que o meu barco negro
De velas rasgadas
Não te sabe encontrar

Queimem-se dias.
Queimem-se dias contra tempos,
Saibam na terra Que
Não há nada Que
Saibam que não vou parar




Ainda hei-de ver-te
Ai hei-de ver-te
Mais perto que a lua companheira
Hei-de ver-te
Hei-de ver-te ai
Na hora, derradeira


Rebentem ondas.
Rebentem ondas contra estrelas,
Que o meu barco negro
De velas rasgadas
Se faz pequeno no mar

Que o meu barco negro
De estrelas rasgadas
Rebenta na espuma do mar

...

Alegra-me ouvir o som da chuva por dentro da chuva
É o tilintar luminoso da minha loucura já derramada
Abrupta sobre qualquer sentido de razão
Cuspindo água carregando sobre trapos esquecidos

O corpo macerado de chagas abertas por dentro
Marcado de tanto coçar por dentro
Não sente a rudeza dos trapos que ficam por fora
Parece que já nada o pode aquecer

O som da chuva por dentro da chuva
Esse nasce frio como o corpo gelado
A dor que se faz de unhas afiadas
Solta a loucura como um arrepio nos olhos
Cuspindo água para todos os lados

Tristeza

Tristeza profunda é falar
Quando nada posso dizer
Tristeza profunda é dizer
Quando me doi só em pensar
Tristeza profunda é pensar
Quando não te atreves a ter
Tristeza profunda é saber
Que não sou capaz do simples gesto de gritar!

Poesia

Poesia
É intratável é longínqua
É inalcansável!
Foge-se dela
Quando temos certeza
Que é a amante que torna
Que torna sempre a vir

Carne

Os meus lábios seríam mais vermelhos entre os seus
Suavemente é como vejo o seu sorriso
Docemente sigo o seu olhar com esperança
Escrevo cada palavra sua na minha pele
Porque os meus lábios seríam mais vermelhos entre os seus
Porque não a consigo esquecer e me agito na cama
Porque como as horas de olhos arregalados
Porque há meses que conheço o mesmo sonho
Lábios nos Lábios vermelhos
Lábios nos Lábios vermelhos
Lábios nos Lábios vermelhos
E os meus lábios seríam mais vermelhos entre os seus

Amigo

Ao momento de um beijo tudo se pricipitou
Movimentos a arder de angústia lançaram-se sobre a cama
Levantou-se a intimidade que se esconde dia a dia dos olhares
E mesmo assim ela não deixou de me chamar Amigo

Quem sou?

É amor apaixonante e por vezes Ódio desmedido
É fazer parte dele e lutar para o não ser
Repetitivamente numa guerra incapaz
É acima de tudo ser desumano

segunda-feira, maio 24, 2004

Vinho

Bebidas brancas, cerveja e pedras de gelo.
Tudo isto se consome abundantemente nos bares do nosso país. Já o vinho, uma das "indústrias" do nosso Portugal, esse raramente se vê á venda ou a ser consumido pela nossa juventude. Procurando razões para tal quebra de tradição vou enumerando o que me vem de repente á lucidez da interrogação.
Primeiro o paradoxo: "é fino beber vinho", "vinho é uma bebida de bebados de tasca". Parecem-me observações bastante descabidas. O Vinho é de todos, nasce da terra! E muito menos deveria ser um bem social, uma marca de status. Vinho é património, e deveria ser considerado como tal.
Segundo: O Vinho vendido em restaurantes e bares surje sempre a preços exorbitantes. É ímpossivel poder bater a competitividade da cerveja. É uma grave condicionante de consumo.
Estas são as razões que me parecem mais emergentes, e com muita pena, pois para além das qualidades deste liquido, como referi anteriormente, a sua produção e comercialização podería ter outra desenvoltura, proporcionando outros meios, não só para o aumento em termos da quantidade, mas também no respeitante ao aperfeiçoamento da qualidade.
Caso o seu consumo aumentasse ao nível que pretendo referir teríamos uma maior exigência e apreciação do que se produz em Portugal. Todos lucraríamos.
julgo que a solução passa por uma consciencializão e consequente abertura da sociedade, e da sua mentalidade. E, finalmente, por uma atitude de boa conducta e espirito de comunidade dos responsáveis dos locais de lazer.

Só em jeito de crítica, anda-se para aí a inventar cerveja verde, gelada, etc (o que até acho bem), quando temos tanta variadade de vinho, seja a nível de cor, paladar, região ou casta.

Por vezes

Por vezes deixo-me ir negligentemente pelas ruas carregadas de linhas e miragens
Sigo a intuição sem a racionalizar e do meu corpo sinto apenas a sola dos pés
Nestas andanças quero pensar que o vento me dirige no meio da civilização
Já quando estou no campo ganho propósitos em cada pormenor que descubro
Por vezes baixo-me para apanhar um galho solto, inclinando-me com o meu nariz
Sinto aquele cheiro a terra e vida, e os meus olhos ganham novos tesouros
Ao ver os seres fervihantes que os meus pés cegos desdenham
Por vezes chego-me á beirinha da linha de comboio, mesmo no limite do patamar pétreo
Armo-me de sentidos e abraço a luz que ilumina vidros, metal, a pele do meu rosto
Vou absorvendo o mundo sempre que dele saío, como se Eu fosse todo mãos, todo boca
Tenho aquele desejo de provar todas as sensações que se escondem
Por vezes, sento-me num sitio improvavel a disfrutar o meu silêncio
Se por vezes falo demasiado, no fundo, acho que sou uma pessoa silênciosa
Talvez tenha a crença de que quantificar e qualificar com palavras não chegue
Compreendo quem pinta, quem toca solitáriamente um instrumento,
Respeito quem escreve
Por vezes julgo que fiz de tudo isto a minha religião, caso tivesse religião
Acho que a susbtituí por outra palavra: Filsofia. Sempre é mais pensada e mais moderna
Pelo menos é mais acessivel a todos e a mim. Não tive de ir para um Seminário Papista, entenda-se
Por vezes, sentado na minha cadeira ergonómica, relaxo e inclino-me para trás
Deixo-me embalar pela tontura ligeira do sangue a percorrer as minhas veias
Parece que espessa tanto que se pode sentir a sua circulação
E imagino que começo a acompanhar o movimento giratório da terra, no mesmo sentido
Devo fazê-lo inúmeras vezes no meu quotidiano, mas não é hábito ter consciência dele
Por vezes, gosto de estar com amigos e esquecer as preocupações
Outros braços são mais generosos e embalam-me para além do mundo
Neles cada poro é um universo a explorar e nada mais interessa, até que voltamos á luz do dia
Mas é Só, é quando estou sozinho que me deixo a mim mesmo
Refugio-me no exterior e dispo-me de tudo
Disperso-me pelas nuvens, navego em todas as ondas
Sedimento-me nas dunas dos desertos
Tudo me sabe tão bem Por vezes



sábado, maio 22, 2004

Ternamente

Esqueci-me de uma janela aberta.
Atreveste-te a entrar por ela sorrateiramente
Deste por mim sentado num cadeirão solitário
E com um olhar tornaste tudo mais dificil.
Recriaste a figura de um anjo provocante, a sorrir
O que me deixou sem fala, a pensar em como haveria de agir.
Aproximaste-te de mim, deste aos teus olhos a expressão de tristeza
Deste toda a tristeza do mundo ao teu semblante
Eu, naquele cadeirão solitário, vi sombras ganharem vida no teu rosto
Aproximei a minha boca da tua
Resmunguei comigo mesmo por não o ter feito antes
Entreguei-me
Fluí, fechei os olhos nos teus lábios,
E sem crer- Eternamente

segunda-feira, maio 17, 2004

Movimentos Circulares

Agarro na minha alma e rasgo-a como uma carta que não soube compôr
Recomeço a escrever entre cortinados de veludo vermelho
Palmilhando sobre o chão de mosaicos geométricos
Sento-me em frente á janela aberta do quarto
A mesa de madeira range um gemido abafado
O ar condensa-se em pedaços de papel
A caneta não é mais do que tinta e plástico.
E nada parece querer sair para folha
O que é uma carta vazia? Nada!
Rasgo a alma de novo
Está seca!
Já não sangra

O meu semblante sereno disfarça-me a preocupação
Não consigo transpôr nada para outra realidade
E este nada faz-se quando basta uma palavra
A palavra certa para começar a escrever a carta
Defenitivamente concluío que não devería ter sido:
"Agarro..."

Cantiga de Escárnio

Foi um dia Lopo jograr
a casa duü infançon cantar,
e mandou-lhe ele por don dar
três couces na garganta,
e foi-lhe escasso, a meu cuidar,
segundo como el canta


Escasso foi o infançon
en seus couces partir' enton,
ca non deu a Lopo enton
mais de três na garganta,
e mais merece o jograron,
segundo como el canta.


Martin Soarez, CV 974


(Retirada de http://www.ipn.pt/literatura/trovador.htm )

quarta-feira, maio 12, 2004

Movimentos

Carros, pessoas, cães, pássaros, insectos, e até mesmo as plantas se movimentam de um lado para o outro. A terra movimenta-se, dizem.
O espirito movimenta-se.
A luz que incide sobre o vidro do café movimenta-se trazendo sombras que se deslocam do masso de tabaco para a mesa, do isqueiro para a mesa, do masso de artigos de arqueologia para a mesa, da chávena de café para a mesa. O meu espirito move-se para a mesa, e desconheço a dimensão em que se encontra. Do objecto para a Sombra, da Sombra para a Mesa, da Mesa para além dela, Dela para uma musica de Carlos Paredes, com um título a soar retinente, "Movimentos Perpétuos", continuamente como as pernas que sabem sempre o caminho de casa para que o espírito possa ir morar noutro local, até ao momento em que tenho de saber em que bolso guardei a chave.
Surgiu-me a ideia de que os meus momentos de consciência são apenas recorrências á memória dos actos, enquanto que o resto, ou grande parte dele, se caracterizam por movimentos eternos, não necessáriamente circulares. Andam sempre para além das sombras da mesa de café.
É apenas uma ideia claro! Mas não sei onde vai parar.




sábado, maio 08, 2004

Ofereçam-me palavras




Hoje

Guardo em mim um enorme sorriso
Porque hoje vou abraçar um cravo

Deixo-te as palavras necessárias para te fazer o Poema que não consigo


Um poema nunca tem as palavras necessárias
Nunca se cobre de palavras extraordinárias

Um poema tenta falar do que se sente
Por consequência e por fim o poema mente

Fica sempre aquém do que consigo dizer
Fico nervoso e sei que não há nada a fazer

Então deixo-te palavras a que chamo poema

Sobre uma cabeceira imaginária de Lousa

Com letrinhas riscadas sorrateiramente á pressa

Não fosses tu entrar de repente no quarto

Sou criança com silabas no canto da boca

Meto os dedos dos pés pelos dedos das mãos

Só de tentar explicar um simples porquê.


Para te agradecer as palavras no meu espelho...









Elogio exacerbado porque vale sempre a pena provocar um sorriso

O teu perfume ó Rosa
Confunde-se entre os perfumes das outras flores
Porque desde que te conheci ó Rosa
De Rosa se perfumam meus amores

Há Coisas irritantemente evidentes

Por exemplo:

Ontem, tinha eu acabado de me preparar para voar, ía eu já a sair disparado pela minha janela,
quando de repente sinto a minha alma a ficar presa em dedos a puxarem para aqui,
que acabei por intencionalmente escrever algo de irritantemente evidente. E com muito gosto!



sexta-feira, maio 07, 2004

Verdes quero-os Verdes


Quero-os sempre verdes

Os mares em que me enterro

De verdes a gotejar punhais

Que venho lamber pela noite.

Entre os nossos corpos nada

Ou lugar nenhum para espaços

Meu corpo Marfim e o teu verde

Fechando-se um sobre o outro

Entrelaçando-me na tua carne

Abraço cabelos, verdes sargaços

Entrego-me a longos cansaços

Para vir repousar, bem colado a ti.





Pequenos orgullhos de uma vida Idiota

Cruelmente surgem-nos como aparições inconvenientes vindas do além.
Falo dos momentos em que pesamos a nossa vida, no nosso trabalho sempre incompleto.
Surge a pergunta constrangedora: Serve para alguma coisa o que ando a fazer?
Depois de reflectir parece-me que a única coisa que faço realmente bem é a mayonese sem me importar sequer se escrevo bem o seu nome,
ou se os outros gostam ou deixam de gostar. Sei que a minha é bem feita, e que o meu universo, o de mais ninguém, depende dela.
A mayonese é a "coisa", a "coisa" fundamental para a minha continuidade ou já não haveria mais sentido na minha existência.




quinta-feira, maio 06, 2004

A propósito de coisas sem sentido

Papoilas carnudas desciam-me pela perna, em passadas sincronizadas, marchadas, como que formando um pequeno exercito.
Abelhas minúsculas zumbíam á minha volta arremessando violentamente ferrões teleguiados. Repolhos cuspíam ameaçadoramente, contra o seu alvo, lagartas de apetite insaciável. Figueiras vermelhas espichavam leite de figo que me colava ao chão e me tornava ainda mais frenético no meio daquele ataque, estava cheio de comichão. Outras árvores lançavam sementes contra o chão, na direcção dos meus pés, e delas brotavam outras árvores que tentavam agarrar-me, que por não conseguirem, levantavam-se para o céu, entrelaçando-se umas nas outras para não me deixar escapar.
Eram tempos de grandes guerras e ninguém queria ficar de fora.

quarta-feira, maio 05, 2004

Ai liberdade

Em tempos os americanos andavam preocupados com a Liberdade pois ela estava á solta.
Então os seus amigos Franceses contrataram um dos maiores mágico do seu tempo para construir uma armadilha.
Assim os americanos hoje têm a Liberdade controlada numa ilha, presa dentro de uma estátua.


25 de Abril de 1974

Até á data nada tinha dito sobre este acontecimento histórico de importância fundamental na vida dos Portugueses, na minha vida.
Eu também faço 30 anos este ano, mas aguardei pelo mês de Junho para nascer.
Deposito esta frase que me circulou tantas vezes pelo espirito:

Dia 26 amanhaceu a suposta Liberdade


terça-feira, maio 04, 2004

Ofereçam-me palavras




Hoje em dia todos nos queixamos

Um dia a vida
Vestiu-se de negro
Ergueu-se de ombros pesados
E fez um poema tão triste
Ao que alma logo ditou


Vai de roda
E gira pelo o inferno a queimar
Esse negro que veio amortalhar
O riso e força dos homens
Que sentem sem nunca temer


Um tempo raivoso
Pintou-se de cinzento
Crescendo tenebrosamente
Trouxe mais indignação
Levanta esses braços pesados


Vai de roda
E gira pelo inferno a queimar
Essa tinta que te dá guerra
O riso é a força dos homens
Mas só o grito mudará esta merda

Ergue-te! Para gritar!


Grito Grito sobre o mal dito
Pois há que bem dizer
Grito Grito, e mais repito
A mudança não se opera
Se ficarmos só a ver

Sería Ícaro e seu pai?

Estava sentado na minha cadeirinha junto á janela do meu quarto, muito concentrado a ler, quando sinto quatro olhitos muito pequeninos
mais curiosos do que os meus olhos costumam ser.
Á frente desses olhos estavam bicos firmes e desavergonhados.
Eram dois amigos alados que me vieram visitar de paragens aéreas. Talvez quisessem descansar um pouco no meu pareito, mas quis acreditar que foram atraídos pela musica que ouvia (curiosamente era o "Traz um amigo também" do Zeca, desta feita tocada pelo quarteto).
Ficámos uns segundos a olhar uns para os outros, ambos os três com cara de quem diz: "olá, mas quem é este", e como não conseguimos comunicar eu assobiei. Por sua vez estes pequenos seres assobiaram de volta. Pelo menos seria engraçado se o tivessem feito. Mas não! Levantaram vôo e nem um adeus. Segui-os com o olhar o quanto pude. Ícaro mais seu pai.


segunda-feira, maio 03, 2004

Pontos de Fuga


De vertigem em vertigem,
De passeio em passeio
Lá vou eu correndo á margem da realidade.
Solitário despojado de sombra,
Marco a minha existência com o ruído dos passos.
De soluço em soluço,
De imperfeição em ilusão,
Lá vou remoendo ideias que trago apenas no olhar.
Recriando o mundo á minha vontade.
Questionando os mundos dos dias anteriores.
De passada em passada,
De profanação em mimetização,
Lá fui eu correndo, tanta vezes acelarando,
Até as linhas se fazerem luminosas,
Até os caminhos solitários apresentarem fugas.
As linhas vão convergindo em pontos centrais
Formando avenidas e ruas intermináveis de luz,
Brilhando sobre a escuridão que serve de fundo
Para todas elas, questões ou pensamentos,
Todos os mundos recriados, e todos os freios,
Assim se libertarem até aos distantes, infinitos,
Pequenos pontos de fuga...pontos de fuga...
Pontos de Fuga...
Que se prendem na ponta do meu cigarro
Desfazem-se em fumo e abraçam o vento
Partem para longe, para as nuvens, para fora.
Partem para todos os sitios onde habite a fantasia,
Procuram sempre novos mundos entre os velhos,
Andam á escuta de palavras ditas de outra forma,
Andam á procura de outros pontos em fuga.
Viajam virtiginosamente sobre as suas pernas,
Viajam compulsivamente sobre a minha mente,
Prometem cores e sabores, texturas desconhecidas
Pormetem convergir em algo diferente.
Vão pela luz, velozmente, incansávelmente, em fuga.
Vão para além do tempo, descrevendo curvas e espirais,
Correm de olhos fechados, quase colados ao chão,
Atiram-se para o centro do Vórtice abalando a terra,
Cortam ondas no mar furioso, cortam os céus infinitos,
Rebentam com a monotonia em Linhas infindáveis,
Crescem em orgias erguendo-se gigantescas sobre cabeças,
Mordem raivosamente o nada até ele sangrar inovação.
Os pontos de fugam não páram, não se cansam,
Correm de olhos fechados, quase colados ao chão,
Fazem gemer os materiais, assim que eles dançam,
Pontos de fuga que se fazem pequeninos em provocação.
E eu não resisto a persegui-los,
Seduzem-me de tão pequenos que ..........