sexta-feira, dezembro 24, 2004

TErra da arrogÂncia

deixa passar estas palavras que se vestem de farrapos com buracos nos sapatos
e sorrisos escondidos arrastando pelo chão elas são pobres impossiveis e de sangue vão pintando os lábios mortos em tons de revolução

estas palavras inquietas tem bichos carpinteiros que constroem mealheiros onde guardam a miséria as sobras da humildade porque em terra de arrogantes tudo se faz como era dantes e não Há nada que tenha mais força do que o Não

terça-feira, dezembro 21, 2004

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"no meu tempo não era assim, no meu tempo não era assim"
Ahhh, que se fodam eles e mais o tempo. Tanta saudade de um tempo que nunca lhes pertenceu

NO FUNDO

Um cogumelo de espuma branca e o ruido do corpo a perfurar o mar
De movimentos congelados pela visão prolongada de um paraíso onde todos os gestos são delicados, sem pricipitações apressadas, sem palavras que possam ferir o casco de navio, ao que os cabelos respondem com uma dança meiga, suave.
Mergulho no azul interior onde a calma se respira por oxigénio, onde lentamente deslizo sem atrito até suster os pés na areia cintilante de um outro tecto. Deixo para trás a condião de ser animal, de ser homem, mutante, sou apenas pensamento. As palavras de antes são bolhas de ar que se soltam por um processo de purificação. Se a carne já não me doi, a mente muito menos arde do roçar das superficies agrestes. Estou livre!
Onde estou?
Aqui não há lugares! Neste sitio não há sitios. Trata-se apenas de um estado: O líquido
Aqui apenas se propagam os murmúrios
Aqui, a propriedade mais doce é o movimento
Aqui tudo se esquece para se aprender de novo, porque no fundo, nada se repete...

domingo, dezembro 05, 2004

O eremita sentado

Parto
Se não parto
Se não parto, porque fico? Talvez porque tenho na permanência a mesma certeza que tinha na partida. Antes sabia que era mesmo assim, agora sei que sou mesmo assim. Dúvidas? Surgem sempre creio, sobretudo aos que gostam de questionar. Sou eremita e pouco mendigo, contudo questiono-me também se o serei efectivamente. Sei que sou o que um determinado, ou indeterminado, espaço de tempo, conjuntura, realidade, desenlace ao qual emprego apaixonadamente as minhas forças, me captura, por cedência e entrega desprovida de arrependimentos, na qual me deixo partir.
Sendo assim, mesmo quando fico, parto. Deixo-me ir como sempre fiz. Não é um ímpeto, é antes uma vontade própria. Propriamente uma vontade minha, que permanece desde que a mesma, a vontade, permaneça. Afirmo-me vagabundo, viajante, mas se me perguntarem se voltarei a partir, digo que não, sabendo bem que já o fiz desde o momento em que o rosto de quem pergunta esboçou o mais leve traço de dúvida, e eu me apaixonei pela ideia de adivinhar o movimento sonoro dos seus pensamentos

sábado, dezembro 04, 2004

A Mais Suave miragem dantesca



Rostos
que desmoem na calçada
a loucura dos telhados
mesmo à porta do céu
Marcham
contra paredes empilhadas
e visões amuralhadas
pouco ou muito
se a raça se perdeu

Tenham cuidado
se andam de pé
que os costumes
andam armados
à procura de cabeças
de rostos maltratados
de ideais cansados
afogados na conversa

Queimam
o que lhes arde dentro
bem no centro da cidade
salvando as facas e denúncias
Julgam
que os Impérios se apagam
e as cortes se atrasam
pouco ou muito
a reclamar o que é seu