quarta-feira, março 31, 2004

CITANDO VII

"A conclusion is the place where you got tired of thinking."
Martin H. Fischer

Escuso de fazer comentários pois prefiro deixar espaço para o pensamento e não para conclusões. As conclusões não deixam de ser circunstânciais.
Por isso...





?



Cyprinus Carpio

Cypriforme da familia das Cyprinidae, pode atingir até um metro de cumprimento (máx.) e ter cerca de 55 kilo (max.). A sua proveniência é apontada para as longinquas paragens do Oriente, sendo referida em fontes da antiguidade clássica.
O seu habitat preferêncial são os lagos e açudes. Caracterizando-se como um peixe de rio, a Carpa, como a conhecemos vulgarmente, tem um período de vida que pode atingir os 70 anos de longevidade, pondo por estação cerca de um milhão de ovos, com um período de incubação de 4 a 6 dias apenas. Assim se explica a abundância deste animal dócil, que mesmo sendo agredido não se afasta do perigo. Talvez pela sua gula inconsolável, animal guloso de hábitos omnivoros, resumem as áreas em que nadam ao seu dominio sobretudo pela dimensão do número, e do seu já referido apetite. Qualquer coisa como: "já que não os podemos vencer podemos comê-los e multiplicar-nos nas sobre os seus restos mortais".
A Carpa é muito pior do que uma Palmeta.


terça-feira, março 30, 2004

A ponte e o Terço


Ponte Europa em Coimbra.
Ganhará novo nome devido á Comissão de Toponímia da Cidade de Coimbra que deseja ver a ponte abençoada com o nome de Ponte Rainha Santa Isabel.
Parece que o assunto ainda está em discussão.
Quanto ao nome original, também me parece ambicioso demais para a pequena cidade de Coimbra. Já este nome ligado a uma importante figura religiosa demonstra o caracter religioso que tão bem representa a sociedade Portuguesa...Aliás, seria uma afronta á Igreja católica ver uma cidade "sua" onde uma ponte tem o nome de uma divindade da antiguidade clássica, e longe já vão os tempos de paganismo. Afinal os autos de fé não se deram para nada!
Recordando aqueles textos que li em miudo, pois enchi o meu imaginário com lendas e contos portugueses (com uma colecção dos "Amigos do Livro"), a associação das pontes aos nomes de Santos provinha de um milagre decorrido ou imaginado. Em constraste, o único milagre que conheço referente á Ponte Europa, onde também dei trabalho ao colherim e á enxada, foi mesmo o término das obras, que tardou e tardou e tardou, para além do que já estavamos habituados em Portugal.
Custa-me assim a compreender o porquê desta alteração toponímica! A não ser que estejam a pensar em fazer passar a procissão da dita Santa pela referida Ponte.


Duvidas

Mas porquê um bacalhau? Porque não uma carpa?
Obvio: Carpa é peixe de rio!

segunda-feira, março 29, 2004

Hoje estou destinado a ter grandes ideias

Hoje gostaria de poder
ler junto a um canal (DAM) em Amsterdão
tomar café no Santa Cruz em Coimbra
comer um bolo numa pastelaria do Bairro Gótico em Barcelona
Jantar um Pulpo com o Ladra na Corunha
Fumar um cigarro no Cairo
tomar outro café em Santiago de Cuba
dançar um Tango em Buenos Aires
Amanhã acordava e olhava para o verde algures na Irlanda
escutava musica em Cabo Verde
entrava-te pela casa a dentro e levava-te comigo. Sim! A ti!
Fumava um cigarro numa ilha mediterrânica
Mergulhava no meio do Atlântico
Disfarçava-me de peixe, um belo bacalhau
ficava a apanhar sol numa praia cheio de sal
ia parar ao teu prato generosamente regado de azeite
sim, com muito alho
tu comias-me eu eu entrava dentro de ti
depois poderia ver tudo pelos teus olhos
o mundo parecer-me-ía diferente
e voltaria a repetir tudo o que fiz até entrar no mar
depois fazia de ti um bacalhau
dava-te a comer a alguém muito pobre
e ele veria o que tinhamos visto juntos
e pensaria "que bem me soube este bacalhau"
com sabor a Amsterdão, a Barcelona
a Dublin, a Creta, a Coimbra, a Santo Antão,
a Corunha, a Santiago de Cuba, a Buenos Aires, a Cairo.
"Felizes são os que comem bacalhau"
"Para eles a vida tem sempre outro sentido"
Felizes pois!

QUOTA HORA EST

Chegou um daqueles momentos que eu vivo antecipadamente com relutância: o adiantamento da hora.
Habitualmente, o meu comportamento diário é caracterizado por atrasos ou pontualidade exacta, que vulgarmente expressamos como "andar em cima da Hora", cavalgando-a pelas imensidões geográficas. Por isso o meu pânico aumenta quando de repente decidem antecipar uma hora inteirinha. O risco de atraso tem uma maior margem de possibilidade. Assim, logo por esta manhã tive de fazer um esforço titânico para conseguir vencer o relógio e não me demorar. Mas, uma batalha não equivale á guerra e aconselha-se a prudência, a quem como eu tem sérias dificuldades em "arranjar" tempo para tudo.
Pensei até mesmo numa solução. Caso haja a possibilidade de obter umas pernas mais cumpridas esta situação poderá ser remediada, já que as distâncias métricas se encurtarão, ganhando segundos preciosos ás horas impiedosas. Ainda vou ter de calcular o tamanho a acrescentar aos ditos menbros para conseguir compensar este adiantamento tão pesado.


quinta-feira, março 25, 2004

FIM

Farto de viver um peixe decidiu afogar-se
Lembrou-se de se enforcar mas nunca soube onde tinha o pescoço
Morrer queimado era uma solução mas também não sabia como havia de fazer fogo na sua casa de água
Pensou em atirar-se do 14º andar mas não conhecia nenhum prédio tão alto
Pensou em cortar os pulsos
Em afogar-se
Pensou em tantas outras mortes impossiveis
E leu num papelinho com um ditado que o peixe morre pela boca
Então decidiu que iria comer uma grande refeição para uma zona de águas contaminadas...

FIM

O Amor entre Homens na Era dos Pensamentos Digitados

Que discuta comigo quem me quizer contrariar o conceito de amizade como uma forma de amor. Arrisco mesmo que pode haver paixão por uma amizade, correspondendo a períodos de intensidade de trocas sociais e culturais entre dois indivíduos, não descriminando os sexos.
Mas também é sabido, que a amizade entre homens e mulheres continua a não existir sem nela conter uma tensão sexual, e, que os homens não podem demonstrar afecto ternamente para com outros homens a não ser que se aplique ao progenitor do próprio.
Também se verificaria a mesma "sensibilidade" comportamental na Pré-História? É curioso pensar em avanços tecnológicos e permanências, ou retrocessos sociológicos.
Recordando os muçulmanos, que se beijam no rosto entre homens, para depois taparem as caras das suas mulheres com a Burkha. É possível que o beijo entre homens provenha da impossibilidade de beijar as ditas mulheres no rosto e não de outro motivo mais bem comprovado!? Ou então, são todos "larilas"! Larilas que ao invés de se vestirem de Travestis preferem trajar-se de homens bomba por ser muito mais sensual.
Nunca pensei que pudesse ser tão óbvio!
Agora os Russos esses deixam-me com duvidas! Aquela coisa de se oscularem uns aos outros, homens, na rua e em público, mesmo tendo mulheres de cara destapada...Só podem ser "Larilas"! Ou isso, ou é da Vodka, e afinal de contas são "larilas" inconscientes que beijam caras barbudas a pensar que são mulheres!? Sendo assim, por associação, os comunistas são "Larilas"! Já estou a imaginar uns quantos tipos de rija Direita politica, homens de tradição, rindo irónicamente com este comentário. Mas, como estamos a falar de boatos que se geram em sociedade e através dela, podemos falar dos boatos do Paulo Portas, que ainda não se virou para beijar os soldados na sua formatura, mas pelo que se diz nas ruas, quem sabe se um dia?...
Ou seja, o afecto é proibido em Público. Quando por certo se um amigo nos convidar para ir ver um filme lá a casa e beber um copo, nenhum de nós tremeria com a ideia de podermos vir a ser assediados. Isso nunca me passaria pela mente. Claro, desde que este faço o convite em privado, caso contrário...surge aquele humor de quem não sabe fazer piadas com mais nada e os super machos evidênciam o tamanho dos seus testiculos reprodutores, rindo com notas graves.
Será que estar num chat sozinho com outro homem faz de mim uma florzinha?
E se este blogue for lido maioritáriamente pelo sexo masculino então eu sou abafapalhinhas?
Eu realmente não tenho fotos de mulheres nuas expostas na sua graciosidade feminina! Será que gosto realmente de mulheres?
No outro dia dei um abraço a uma amiga minha e não senti tesão. Terei algum problema hormonal?
Ontem jantei com dois homens que abracei. Será que lhes deveria ter oferecido uma sobremesa especial?
Isto parece-me um assunto a ser resolvido pela revista Maria!
Qualquer dia falo daqueles homens que se esfregam uns nos outros para provarem a sua masculinidade. Assumem a capacidade de se beijarem mutuamente e recorrem frequentemente á apalpação para demonstrar que são Heterossexuais destemidos não sentindo qualquer atracção real por outro homem.
Estes assuntos são interessantissimos. Deixam-me cheio de ideias, podendo vir a transformar este blogue no blogue do amor. Abre-se um mundo de possibilidades.
Vou dar conselhos a todas as pessoas que são oprimidas pelas sociedade e temem libertar os seus desejos. Vou incitá-los a assumirem as suas tendências e dentro em breve o mundo irá revelar-se na sua amplitude de relações extra-heterosexuais. Tenho de aprender várias linguas para poder espalhar a boa nova, tal como fez o espirito santo com os pagãos, convertendo-os em cristãos, outros grandes "caga para dentro" ( "amai-vos uns aos outros" dizem eles ).
Sim meus filhos, qual é o vosso medo? Dizei-me quem vos persegue para eu os julgar! Lembrai-vos que excusais de acusar os outros para disfarçar as vossas ansias pois o mundo é livre e eu trago a boa nova:
Afinal o amor entre os homens é permitido e podereis amar-vos no paraíso.

Há problemas que são absolutamente ridiculos, não vos parece meus filhos?

quarta-feira, março 24, 2004

Paraíso de poucos no desejo de alguns

Estava a observar o "Paraíso Terreno" de Bosch, e mais uma vez fiquei intrigado com aquela fonte em tons de rosa, que inrrompe quase no centro do quadro, erguendo-se ponteaguda como um obelisco que quer ultrapassar a tela, trespassando o céu.
Vai jorrando matéria liquida que vou supor que seja água. Nunca o saberei. Esta água parece vir directamente do lago onde foi erigida a fonte e pergunto-me o que estará sob o lago do paraíso. É dificil de imaginar. Prefiro pensar que Bosch não faria uns simples peixinhos convencionais.
E se realmente não fôr água?
O que é certo é que vejo anfibios tricéfaloides e outros bichos sobre os quais o Miguel Torga nunca contou um conto. Tomo atenção ao desejo de voar, pois como seria fantástico poder ter asas! Os inúmeros pássaros que descrevem circulos contínuos adivinhando uma festa de bater de penas, calcorreando os céus acima da terra, como se fosse um brincadeira de crianças. Imagino a visão que deveria ser.
Felizes serão os pássaros que povoam os céus e a terra. E depois entram pelas aberturas da casa amarela como quem foi espreitar alguém especial. Quem será? Ah, como são felizes os pássaros. Apesar dos bicharocos bizarros neste momento quero acreditar que os pássaros são os seres mais horrendos entre os pintados por Bosch, pois levam a pecar pela inveja. São umas bestas!
Na minha infância sonhava que quase conseguia voar. Saltava muito alto e aproveitava os ventos lá em cima para ir planando. Nunca consegui voar de facto. Outros adultos com quem falei partilharam um sonho similar e alguns deles chegaram mesmo a voar. Esta noiticia deixou-me em pulgas. Será que sou posso voar se fôr criança outra vez? É que ultimamente tenho tido uma vontade assobrosa de voar. Mas as asas não me crescem e perdi o direito a ser criança.
Apetece-me praguejar. Porque não nasci com asas?
No momento da criação deveríamos poder escolher o que queríamos ser.
Eu escolhia ser um pincel para pintar tudo o que desejo em várias telas, retocando pormenores no final. E quando um dia, depois de tantos desejos pintar, já não servisse como pincel, ficaria apenas com o meu corpo de madeira polida para ser utilizado entre os cabelos longos de uma mulher jovem.
Mas agora quero ter asas e entrar naquele quarto!

sexta-feira, março 19, 2004

Dia Mundial da Poesia


Juntam-se Calíope, as Camenas, Apolo, Orfeu, e até o Caronte exige como óbulo não uma moeda mas sim uma quadra. Só assim se poderá descansar nas margens do Estigio.
Séculos mais tarde convoco outros Deuses para este dia, e dormirei descansado nas margens da minha paixão.

Novamente:

Being Beauteous
Devant une neige Un Etre de Beauté de haute taille. Des sifflements de mort et des cercles de musique sourde font monter, s'élargir et trembler comme un spectre ce corps adoré, des blessures écarlates et noires éclatent dans les chairs superbes. Les couleurs propres de la vie se foncent, dansent, et se dégagent autour de la Vision, sur le chantier. Et les frissons s'élèvent et grondent et la saveur forcenée de ces effets se chargeant avec les sifflements mortels et les rauques musiques que le monde, loin derrière nous, lance sur notre mère de beauté, - elle recule, elle se dresse. Oh ! nos os sont revêtus d'un nouveau corps amoureux.


L'angelot maudit



Toits bleuâtres et portes blanches
Comme en de nocturnes dimanches,

Au bout de la ville sans bruit,
La Rue est blanche, et c'est la nuit.

La Rue a des maisons étranges
Avec des persiennes d'Anges.

Mais, vers une borne, voici
Accourir, mauvais et transi,

Un noir Angelot qui titube
Ayant trop mangé de jujube.

Il fait caca: puis disparait:
Mais son caca maudit paraît,

Sous la lune sainte qui vaque,
De sang sale un léger cloaque !


Rimbaud



Fire and Ice



Some say the world will end in fire;
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To know that for destruction ice
Is also great
And would suffice.


Robert Frost



Mirror


I am silver and exact. I have no preconceptions.
What ever you see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike .
I am not cruel, only truthful---
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.



Sylvia Plath





O Captain! My Captain!


O Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weathered every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead!

O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up -for you the flag is flung -for you the bugle trills,
For you bouquets and ribboned wreaths -for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchored safe and sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship comes in with object won:
Exult, O shores! and ring, O bells!
But I with mournful tread
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.


Walt Whitman




He Wishes for the Cloths of Heaven


Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread upon my dreams.



William Butler Yeats







Busque Amor novas artes, novo engenho



Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.



Luís Vaz de Camões




Cet Amour
Cet amour
Si violent
Si fragile
Si tendre
Si désespéré
Cet amour
Beau comme le jour
Et mauvais comme le temps
Quand le temps est mauvais
Cet amour si vrai
Cet amour si beau
Si heureux
Si joyeux
Et si dérisoire
Tremblant de peur comme un enfant dans le noir
Et si sûr de lui
Comme un homme tranquille au milieu de la nuit
Cet amour qui faisait peur aux autres
Qui les faisait parler
Qui les faisait blémir
Cet amour guetté
Parce que nous le guettions
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Parce que nous l'avons traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Cet amour tout entier
Si vivant encore
Et tout ensoleillé
C'est le tien
C'est le mien
Celui qui a été
Cette chose toujours nouvelles
Et qui n'a pas changé
Aussi vraie qu'une plante
Aussi tremblante qu'un oiseau
Aussi chaude aussi vivante que l'été
Nous pouvons tous les deux
Aller et revenir
Nous pouvons oublier
Et puis nous rendormir
Nous réveiller souffrir vieillir
Nous endormir encore
Rêver à la mort
Nous éveiller sourire et rire
Et rajeunir
Notre amour reste là
Têtu comme une bourrique
Vivant comme le désir
Cruel comme la mémoire
Bête comme les regrets
Tendre comme le souvenir
Froid comme le marbre
Beau comme le jour
Fragile comme un enfant
Il nous regarde en souriant
Et il nous parle sans rien dire
Et moi j'écoute en tremblant
Et je crie
Je crie pour toi
Je crie pour moi
Je te supplie
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s'aiment
Et qui se sont aimés
Oui je lui crie
Pour toi pour moi et pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Là où tu es
Là où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t'en va pas
Nous qui sommes aimés
Nous t'avons oublié
Toi ne nous oublie pas
Nous n'avions que toi sur la terre
Ne nous laisse pas devenir froids
Beaucoup plus loin toujours
Et n'importe où
Donne-nous signe de vie
Beaucoup plus tard au coin d'un bois
Dans la forêt de la mémoire
Surgis soudain
Tends-nous la main
Et sauve-nous.

Déjeuner du matin
Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec la petite cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cigarette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
Et j'ai pleuré.





Jacques Prévert





Lob der Partei



Der Einzelne hat zwei Augen
Die Partei hat tausend Augen.
Die Partei sieht sieben Staaten
Der Einzelne sieht eine Stadt.
Der Einzelne hat seine Stunde,
Aber die Partei hat viele Stunden.
Der Einzelne kann vernichtet werden,
Aber die Partei kann nicht vernichtet werden.
Denn sie ist der Vortrupp der Massen
Und führt ihren Kampf
Mit den Methoden der Klassiker, welche geschöpft sind
Aus der Kenntnis der Wirklichkeit.




Bertolt Brecht




Dedication

I have great faith in all things not yet spoken.
I want my deepest pious feelings freed.
What no one yet has dared to risk and warrant
will be for me a challenge I must meet.

If this presumptious seems, God, may I be forgiven.
For what I want to say to you is this:
my efforts shall be like a driving force,
quite without anger, without timidness
as little children show their love for you.

With these outflowing, river-like, with deltas
that spread like arms to reach the open sea,
with the recurrent tides that never cease
will I acknowledge you, will I proclaim you
as no one ever has before.

And if this should be arrogance, so let me
arrogant be to justify my prayer
that stands so serious and so alone
before your forehead, circled by the clouds.




Love Song

How can I keep my soul in me, so that
it doesn't touch your soul? How can I raise
it high enough, past you, to other things?
I would like to shelter it, among remote
lost objects, in some dark and silent place
that doesn't resonate when your depths resound.
Yet everything that touches us, me and you,
takes us together like a violin's bow,
which draws one voice out of two seperate strings.
Upon what instrument are we two spanned?
And what musician holds us in his hand?
Oh sweetest song.


Translated by Stephen Mitchell




Rilke








Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.




Por quem foi que me trocaram
Quando estava a olhar pra ti?
Pousa a tua mão na minha
E, sem me olhares, sorri.
Sorri do teu pensamento
Porque eu só quero pensar
Que é de mim que ele está feito
É que tens para mo dar.

Depois aperta-me a mão
E vira os olhos a mim...
Por quem foi que me trocaram
Quando estás a olhar-me assim?





FERNANDO
PESSOA






ODA Y GERMINACIONES
III

MI MUCHACHA salvaje, hemos tenido
que recobrar el tiempo
y marchar hacia atrás, en la distancia
de nuestras vidas, beso a beso,
recogiendo de un sitio lo que dimos
sin alegría, descubriendo en otro
el camino secreto
que iba acercando tus pies a los míos,
y así bajo mi boca
vuelves a ver la planta insatisfecha
de tu vida alargando sus raíces
hacia mi corazón que te esperaba.
Y una a una las noches
entre nuestras ciudades separadas
se agregan a la noche que nos une.
La luz de cada día,
su llama o su reposo
nos entregan, sacándolos del tiempo,
y así se desentierra
en la sombra o la luz nuestro tesoro,
y así besan la vida nuestros besos:
todo el amor en nuestro amor se encierra:
toda la sed termina en nuestro abrazo.
Aquí estamos al fin frente a frente,
nos hemos encontrado,
no hemos perdido nada.
Nos hemos recorrido labio a labio,
hemos cambiado mil veces
entre nosotros la muerte y la vida,
todo lo que traíamos
como muertas medallas
lo echamos al fondo del mar,
todo lo que aprendimos
no nos sirvió de nada:
comenzamos de nuevo,
terminamos de nuevo
muerte y vida.
Y aquí sobrevivimos,
puros, con la pureza que nosotros creamos,
más anchos que la tierra que no pudo extraviarnos,
eternos como el fuego que arderá
cuanto dure la vida.



Pablo Neruda





Com muita pena minha não tenho tempo para mais...

quinta-feira, março 18, 2004

Bipedismo

O homem ganhou novos horizontes mal começou a caminhar sobre duas patas. Deu tanto valor a este gesto que decidiu valorizar as patas atribuindo-lhes designações especiais. As patas dos membros inferiores passaram a designar-se por "pés", e as patas que agora se libertavam foram baptizadas como "mãos". E isto já assim era antes da Descoberta do Brasil!
A importância dos pés como forma de locomoção só perdeu alguma relevância com a motorização de veículos e da sua consequente vulgarização, permitida por uma sociedade rica em excedentes que criou niveis de prosperidade e produção ao ponto de facilitar a possibilidade de possuir um automovel sem que para tal se necessite ser um priveligiado. TUdo isto com o trabalho das mãos.
Mas estou aqui para falar de pés. Porque os pés fazem-nos acreditar que fomos "feitos" para caminhar. Nas minhas caminhadas tenho encontrado muitos jovens que estão preocupados com o estado, o estado das estradas,o "estado das coisas". São caminhos que lhes custam a percorrer, que os encolhem, que os tornam tristes e doridos, dos quais se queixam os pés pesados e pisados.
Dos que menos se queixam das caminhadas são aqueles que menos caminham, ou que vão caminhando com os pés de outros. Olham para as vias com um ar mais despreocupado, tens os pés fresquinhos e vencem com o seu sorriso enérgico todos os outros que se curvam. Por vezes têm os pés um pouco traumatizados mas ao certo nunca sentiram dores que passam do incómodo ao suplicio, já que não compreendem porque se queixam os outros, e lá vão sorrindo.
Não estou para aqui a descrever as minhas caminhadas, apenas registo que durante estas vou encontrando outros pés que vêm o horizonte de uma forma pessimista, e esta população de pés vai aumentando cada vez mais. Estão a perder o prazer de andar. Sabem que todos os dias terão de o fazer, mas a sensação de não chegar a nenhum lado, sem qualquer conforto e muitas dores, leva-os ao desespero. Não é nada saudável encontrar jovens assim na estrada.
Presumo que caso se prolongue esta situação, novas Indias, novas praias, novas Áfricas, novos mundos serão procurados por estes caminhantes saturados. Não sei se algum dia pensarão em voltar. Não sei se muitos deles terão a coragem de o fazer. Mas esta é á partida a solução mais fácil que os jovens Portugueses encontram. Ou isso ou limitam-se a um bipedismo constante, conformado, protestando a cada passo, sobrevivendo ás tempestades, em direcção um abismo aparente.
Também na vizinha Espanha caminhei com jovens, que nós invejamos pois parecem ter os pés mais bem tratados, menos calejados. Só que eles também se queixavam. Diziam que lá se vai ganhando para pagar o "piso" (geralmente um quartito), comida, ocasionalmente um cinema ou um copo, um livro, uma pequena loucura, uns sapatos novos e pouco mais. Também encontrei alguns caminhantes bem sucedidos, mas desses também os temos por cá, felizmente, pois mais do que causar inveja dão-nos esperanças.
O El Dorado brilha sempre mais do que um prato vazio.
E Bip..bip..bip..bipedismo...lá se vai caminhando em automático. É isto que oiço todos os dias. É isto que me influencia a escrita e a forma de andar.
E mesmo num dia de sol como o de hoje consigo sentir tristeza.
Onde é que isto tudo vai dar? Duvido que seja um vale encantado, mas também não quero acreditar que nos espera um esgoto.
É de tal forma desconcertante que nem sei como acabar este texto...
talvez assim mesmo..

........
...................... .. . . .



terça-feira, março 16, 2004

Achtung

O diabo anda á solta
Saltando pelas armarudas
Voando por cupulas doiradas
Dissolve-se nas cores dos vitrais.
Espreita as virgens distraídas
Esconde das velhas os dedais
O diabo anda louco
Goza com o mouco
Canta para o rouco
Rouba a quem tem pouco
E vai enchendo os odres
De vinho azedo e maças podres.
O Diabo é de má rés
Tem cascos em vez de pés
Bate com eles as castanholas
Ri-se a bandeiras despregadas
Faz gritar crianças nas escolas
Deixa as contínuas atormentadas
Cria borbotos nas camisolas
Vende estradas engarrafadas
Parte as cordas das violas
E as antenas atordoadas
Já não sabem o que emitir.
Os aviões perdem-se no ar
Soldados disparam contra o mar
Os rádios só fazem ruído
E o diabo que é atrevido
Vai pondo casos no ouvido
De quem tem dentro muito fel
Gera-se na praça um escarcel.
Cuidado com o Diabo
É fresco e faz-se de coitado
Já dei por ele sossegado a rezar
Tentando enganar a Deus
Esfregava os olhos como a chorar
Mas usou lágrimas de Filisteus
Editou uma moderna brochura
Diz que tudo é sol de pouca dura
Para quem sofria de Neurose
Receitou-lhes uma leve overdose
E vai-se rindo este Diabo
Este anjo amargurado
Que hoje há, quem sem o ser,
Seja competitivo profissional
Não tem titulo de diabo
Mas domina os negócios do mal
Tenham cuidado, muito cuidadinho
Desconfiem mesmo do vizinho
Já nem o Diabo pode ser feliz
Nas estranhas terras deste País.




Nas asas da boa disposição

segunda-feira, março 15, 2004

...

- Oh, Céu misericordioso, eis pois os horrores que se permitem tacitamente os que se metem a punir os crimes dos outros! Há bastas razões para dizer que tais infâmias estão reservadas a estes frenéticos e ineptos sequazes da cega Témis que, alimentados por um rigorismo imbecil, insensíveis desde a infância aos gritos do infortúnio, manchados de sangue desde o berço, vituperando tudo e entregando-se a tudo, imaginam que a única maneira de cobrir as suas torpezas secretas e as suas prevaricações públicas é exibir uma rigidez inflexível que, assemelhando-os exteriormente a gansos, a tigres interiormente, nada mais obtém, contudo, manchando-os de crimes, do que iludir os parvos e fazer detestar ao homem prudente, quer os seus odiosos princípios, quer as suas desprezíveis pessoas.


Extraído da, "Crueldade Fraterna, Obra do Marquês de S.

sexta-feira, março 12, 2004

A Humanidade: Habitat priveligiado para o crescimento das Dividas


"Se um homem arrancar o olho de outro homem, o olho do primeiro deverá ser arrancado [Olho por olho]."

"Se um homem quebrar o dente de um seu igual, o dente deste homem também deverá ser quebrado [Dente por dente];"

"Se alguém bater no corpo de um homem de posição superior, então este alguém deve receber 60 chicotadas em público."

Extraído do Código de Hammurabi, corpo de leis escritas por volta de 1900 a.c.

O conceito de "DAR E RECEBER" é ensinado desde que somos pequeninos. Se alguém nos dá algo, será de bom tom responder ao seu gesto da mesma forma, sem nos sentirmos obrigados a isso. Contudo, caso não se retribua, entraremos em divida.
Olho por olho dente por dente. A divida é igual entre iguais mas há uns mais iguais do que outros. A frase não é minha.
Haverá uma forma de medir a divida? Algumas delas parecem impagáveis. Acho que para não ficarem de mãos vazias e humilhados perante a sociedade há quem contraia dividas impagáveis de forma a equivaler créditos impagáveis.
Uma verdadeira loucura contabilistica em que os números são feitos de matéria viva, orgânica, pensante, daquela que não é feita em linhas de montagem. Numeros estes que acabam esquecidos em tabelas de estatisticas e cabeçalhos de jornais. Que miséria!


"O Sublime, que reverentemente se curva frente aos grandes deuses; sucessor de Sumula-il; o poderoso filho de Sin-muballit; o escudo real da Eternidade; o poderoso monarca, o sol da Babilônia, cujos raios lançam luz sobre a terra da Suméria e Acádia; o rei, obedecido pelos quatro quadrantes do mundo, adorado de Nini sou eu. Quando Marduk concedeu-me o poder de governar sobre os homens, para dar proteção de direito à terra, eu o fiz de forma justa e correta... e trouxe o bem-estar aos oprimidos."

Que miséria!
Tão justos somos nas palavras, e tão frios somos nos gestos.
Ainda bem que temos poderosos a segurar-nos pelos cabelos quando estamos á beira do precipício. As suas mãos são sapientes.

Sim de facto preferia a Anarquia á mortandade do poder. Mas presumo que não tenha escolha.



quinta-feira, março 11, 2004

Muro das lamentações ao ritmo de António Variações...

"Estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Aonde não estou.
Porque eu só estou bem
Aonde não estou..."

E já fiquei a trautear esta musica bem animada.

quarta-feira, março 10, 2004

Certa vez...

Comprei um contador para substituir o calendário usual.
Foi numa loja de antiquário que o encontrei.
Andava eu a vasculhar curiosidades por entre as velharias e o cheiro a madeira restaurada quando encontro este objecto invulgar. Á primeira vista não teria grande utilidade, pelo menos que justificasse o gasto das minhas magras economias, mas adquiri o gosto pelos objectos inuteis desde que aos 5 anos comecei a coleccionar latas de sumo vazias.
Enfim, tive de adquirir a peça...
Com grande espanto descobri que este era um contador deveras invulgar. Ao invés de contar os meses dia a dia, tinha o estranho poder de os converter em semanas. Ou seja, não encontraria as habituais colunas 7 por 5, mas sim, 4 colunas por uma. Anuncia a mudança de cada semana com um digito que caí sonoramente, um "clic" que demonstra o seu mecanismo de rodas dentadas tal qual um velho relógio Suiço. CLIC.......semana.....CLIC.....semana....CLIC.
Com alegria constatei que as semanas passavam muito mais rapidamente. Tudo voava á minha volta, tudo se apressava para o novo Clic.
Por determinadas razões eu ficava feliz.
Não acreditando em magia, este contador, estava visto que, conseguia alterar a realidade e vencer uma das mais rigidas regras do nosso universo: O TEMPO.
Apliquei um pouco a minha percepção para compreender quais as vantagens que daqui poderia extrair. Todas elas revelaram estar ligadas aos sentidos. De repente, fumava aquele cigarro do intervalo no trabalho muito mais cedo. Tomava o café no final do dia em amena cavaqueira muito mais cedo. Deliciava-me com uma iguaria muito mais cedo. Levantava-me mais tarde, porque afinal de contas já estava atrasado. Entre outras situações.
Porém, porque quando não surge um "mas" recorre-se ao "porém", descobri uma desvantagem (Não sei porque inventam sempre uma desvantagem quando tudo poderia ser mais saboroso!?). E acho que era a vingança do tempo, essa instituição assumida vigorosamente de forma ditatorial nas nossas vidas. Aconteceu que fiquei com muito menos espaço para me dedicar a uma série de actividades! Pois o meu relógio começou a marcar dias quando antes registava horas. E matemáticamente, de 24 passou para 7. São 17 unidades de diferença. Apercebi-me da loucura que estava a viver.
A velocidade substituíu o tempo, e agora tinha de fazer mais calculos para orientar a minha vida. Qualquer coisa do género 200km por dia, ou km por semana, e não me podia limitar a multiplicações, tinha de utilizar divisões, subtracções, raízes quadradas e bases exponênciais.
Mas, como nunca fui grande espingarda a matemática hoje em dia chego sempre atrasado aos locais que não esperam por mim. Então lembrei-me que a terra é redonda e que uma forma de conseguir trapacear o sistema das semanas seria andar ao contrário, porque como a terra estava sempre a girar mais rápidamente, e os meus passos ás arrecuas eram um pouco mais lentos, acabaria por ir dar ao local certo no algarismo correcto através do "delay" conquistado.
Esta é uma grande confusão a que me tenho habituado majestosamente, pois vou aprendendo a coroar os dias com ansia dos pequenos prazeres.
Por falar nisso, tenho de me ir, pois está no dia de fumar o meu cigarro.

Citação VIII

"As Nossas Ideias Ou As Dos Outros
Todos os homens vivem e agem, em parte, segundo as suas próprias ideias e, em parte, segundo as ideias alheias. Uma das principais diferenças que existem entre os seres humanos consiste na medida em que se inspiram nas suas próprias ideias ou nas dos seus semelhantes. Uns limitam-se a servir-se das suas ideias como de um jogo intelectual, usam a razão como a roda de uma máquina da qual houvessem tirado a correia transmissora, submetendo os actos às ideias dos outros, ou seja, aos seus costumes, tradições e leis. Outros consideram que as suas ideias constituem o principal motor da actividade que desenvolvem e quase sempre obedecem às exigências da sua razão. Só de vez em quando, depois de uma apreciação crítica, se guiam pelas normas dos outros."

Leon Tolstoi, in "Ressurreição"

terça-feira, março 09, 2004

Super Seres

Li um artigo no jornal habitual dos meus Sábados, porque isto de ter um Sábado já se tornou um hábito também, e que me fez pensar no quanto ainda estamos atrasados relativamente aos Marcianos que por certo um dia virão invadir o nosso querido planeta, pelo que nem os Americanos o poderão evitar.
A Câmara Municipal de Lisboa, e espero que o gesto seja alargado ao país, vai encetar uma série de modificações urbanisticas tendo em vista a simplificação da vida em sociedade dos elementos "deficientes" da nossa praça. É obvio que não estou a falar de gente estupida mas de pessoas que tendo dificuldades motoras, visuais ou de outro género, acabam por enfrentar um mundo de adversidades ao qual nos encontramos alheios. Esta falta de atenção pode ser justificada pelo andarmos sempre em correrias diárias, mas, se pensarmos bem, esta não será uma boa justificação para um invisual, por exemplo.
Tenho um vizinho meu que é surdo. Por acaso, e com alguma sorte, os seus pais têm um nivel de vida acima da média Portuguesa, pelo que o enviaram para os E.U.A. a prosseguir os estudos universitários onde se destacou brilhantemente. Mas, como é Português, este surdo, e os seus pais estão a viver aqui, o rapaz que é meu vizinho, voltou a casa feito Homem e anda a tentar arranjar trabalho. Reparem que abandonou nos "STATES" a carreira de docente que exercia com prazer. Há valores que falam mais alto, diz-se á boca larga...
Confesso que a imagem dos E.U.A. não me agrada, contudo, ao que parece, sabem ser mais humanos e precavidos nestes assuntos do que a velha Europa, velho pólo de cultura.
Também ao que parece, vão ser gastos uns milhões...Há que mudar pavimentos, degraus, escadas e muitas outras coisas. Finalmente!! Pelo menos já têm um plano, e estão cientes de que é necessário aplicar a ideia. Veremos quanto tempo levará a sua realização. Talvez se apresse caso uma ou duas invasões alienigenas que nos ensinem a melhorar a nossa natureza animal.
Claro que sei que há pessoas que discordarão da minha opinião! Até porque deixaremos de ter "deficientes" tão fortes como temos hoje, e que ganham medalhas na área do desporto. É só imaginar os braços dos tipos de cadeira de rodas, os cegos que já são resistentes a paredes, e por aí a fora. Em verdade não deixam de ter razão, mas deixem estas pessoas decidir se querem ser mais fortes ou preferem passar um dia da sua vida sem parecer estar num concurso tipo "jogos sem fronteiras".


segunda-feira, março 08, 2004

Cantar da Popa

Pou pou, pou pou faz a Popa, ai
Mas seu canto a ti não te toca
Do meu amor tu te ris, ai
Com as moças todas á volta.

A Popa comigo cantou, ai
E tristes quedaram-se os campos
Da flor o inverno brotou, ai
Logo choraram meus prantos


De folhas eu fiz um manto
Que cosi com linhas de trigo
Escondi dos olhos o encanto
Doirando meus gestos de amigo


Pou pou, pou pou, ai pedi á Popa
Que me ensinasse a dançar
Três passinhos de dança, ai
Para te levar a bailar


Em meus braços te terei, ai
Meu amor doirando este manto
Ao ouvido te cantarei, pou pou
Nem á Popa lhe quero tanto


Pou pou, pou pou, ai
Não pouparei mais a voz
Voz que poupa nunca se pou pou.


sexta-feira, março 05, 2004

Instantes

Ouvi uma frase, que por certo, dificilmente esquecerei. Não sei de quem é, mas sei quem a disse.
Rezava assim: "o canto é o prolongamento da fala"
Deu-me muito prazer ter ouvido tal frase neste dia.
Agora vamos ao descanso com musica no ouvido.


Luís Vaz de Camões


Esparsa:

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo grandes tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.


Será o sofrimento dos "bons" uma caracteristica de virtude, ou uma justificação real de fraqueza? Será uma presunção dos que sofrem se considerarem os "bons"? Mas porque sofrem? O que surge primeiro? A virtude ou o sofrimento? E os maus, serão os que nos tiram o que era nosso, ou serão os que têm o que cobiçamos? Jesus redimiu a humanidade com o seu sofrimento. Será que ao sofrermos redimimos os "maus", ou seremos somente mais egoistas do que Cristo? Afinal ele é adorado ainda hoje.
É curioso poder observar que já no século XVI o mundo se desenrolava desta forma.

quinta-feira, março 04, 2004

Tabaco
Tabaco
Tabaco
Balzac
Balzac
Balzac
Tenho que deixar um dos dois!

CITANDO VII

" Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida "

Séneca

De Olhos Inchados

As poucas horas de sono garantem-me duas auréolas em redor dos olhos.
Sinto uma pequena pressão inconfortável. Os meus globos oculares parecem querer entrar para o fundo das suas cavidades como quem diz: "queremos descansar!".
O olhar cansado e seco, o olhar pesado.
Quero fechar os olhos e entregar-me aos sonhos. A tentação de os fechar nem que seja por uns segundos apresenta-se como um excerto do paraíso possível de alcançar por um pestanejar mais longo. A felicidade tende a ser tão simples em momentos suspensos na leveza dos desejos que os sentidos nos imploram para alimentar!
Vai-se erguendo sobre os braços, em seguida sobre os joelhos, a imagem que tenho gravada como o pender de cabeça para relaxar o pescoço que se dobra. Provoca o separar dos pensamentos do resto do corpo, direccionando-os para o chão. As sensações são mais fáceis de escutar e um estertor enebriante do cerebro embriagado por reacções muito fisicas permitem o descanso da mente.
Fecho o olhos e o espaço alarga-se ao infinito, mas sem pressas de explorador. Porque para onde quer que me dirija estarei sempre no centro. São escusadas as preocupações.
As dores desaparecem pois os olhos deixam de ter qualquer utilidade, practicamente deixam de existir. Mas de olhos abertos a luz que entra queima-me o corpo. Instala-se o cansaço, aquela dormência que traz o calor da enfermidade, e vai-se reagindo a espasmos, porque o mundo está lá fora e não pára de rodar.
Olhos pesados, cansados e secos. Olhos inchados que não podem parar.


quarta-feira, março 03, 2004

Fascismo

Apetece-me deliberar sobre isto sem qualquer sentido ou conclusão a extrair...
Surgiu-me a duvida na mente do que seria um Fascista.
Acho que acima de tudo é um ser humano que tem uma idelogia politica e filosófica, e que num meio democrático tem realmente direito á "existência". Será de direito, se esta concepção não me falha.
Contudo, dos fascistas que eu conheço, todos apresentam tendências normativas. As suas aspirações são mesmo essas, e refiro-me á normalização da sociedade. Manifestam um desejo de instalar a ordem, os bons costumes, o que pode não parecer de má intenção não fosse o desespero que os leva a querer impor essa vontade ás "outras" vontades.
Pergunto-me o que seria de uma sociedade normalizada. Existiriam homens como Henry Miller, Dali, ou um Woody Allen? Mas se não fossem as sociedades normalizadas teríamos homens como José Afonso, Che guevara, ou Manuel de Oliveira? Será obvio que todos eles exisitiriam, mas teriam a mesma dimensão hoje?
O ponto mais interessante da questão é o constatar que estes fascizoides reclamam um modus vivendi que sabem ser ímpossivel insistindo que deveria exisitir não obstante, porque seria representativo. Parece-me que tudo não passaria de um acto de cinismo maior, numa sociedade do "faz o que eu digo não faças o que eu faço", onde todos seríam correctos á luz do dia, e insurreitos ao olho da lupa. Tudo pela ordem, moral, e bons costumes. Os radicalismos esqueceram-se de ostracizar o termo EDUCAÇÃO, tal como fizeram á palavra NAÇÃO.
Por estes plano de ideias, os fascizoides revelam-se tão utópicos como os comunistas. Não querendo fazer comparações de fundo, obviamente. Digo apenas que me parecem utópicos.
A utopia não é um bicho de sete cabeças, e pode muito bem ser um dos motores do progresso e mudança. Não estou a tecer criticas aos utópicos, apenas me divirto em pensar num fascista, homem sério, de moral, de costumes, e utópico. É uma imagem deliciosa!

terça-feira, março 02, 2004

Paga

O que traz o velho no capuz?
Serão cerejas vermelhinhas
Não sejas parvo que cerejas não se dão nas vinhas
Então que traz o velho no capuz?
Serão pêras amadurecidas
Não sejas idiota, pêras para ele só das embebidas
Então que traz o velho no capuz?
Devem ser castanhas assadas
Se ainda fossem aguardentes tratadas
Então que traz o velho no capuz?
Seja o que fôr não me seduz!
O velho é pobre e sarnoso
Inculto com cheiro seboso
Mas então porque não tira essa mão do capuz do velho?
Porque ele também tem de pagar
Ainda por cima gasta tudo em bebida
O estado não o pode permitir
A solidariedade não o pode permitir
Tem que pagar o diabo do velho
O dinheiro é do governo, que agora fica mal falar de nação
E o governo precisa de trabalho e produtividade
Mas ele já é velho!
Pagam todos, grandes caloteiros
Até estes velhos marialvas
E eu tenho de fazer o meu trabalho

É certo que ainda existem excepções! São elas que me dão alento...

Este sempre foi um blogue sem pretensões. Nasceu da vontade de escrever, e do gozo que isso me dá.
Há muito tempo que não escrevia como escrevo neste espaço. Aqui não existem regras, não sofro uma avaliação que surgirá numa pauta fria, afixada, e estou-me nas tintas para avaliações. Aqui poderei ser o louco que acredita ter sempre razão, e a que a sua forma de ver o mundo é a mais correcta. Aqui não tenho de viver em concordância com a sociedade, seguindo as suas regras, estipuladas pelas revoluções demagógicas que nunca levaram a sério os seus predicados. Aqui celebra-se a anarquia, a minha anarquia. Mas, no final, posso esfregar este meu estado de loucura na mesma sociedade, finalizando a minha vingança.
Tudo aconteceu quando saí do campo, da arqueologia, a unica Deusa que tenho, sendo a musica a minha Ninfa. Fui agarrado pela Hidra, á qual me rendi por momentos. Sentei-me...numa cadeira de escritório, e com este blogue ocupo o meu tempo, o que me faz lembrar o arrastar de unhas na terra de um corpo que sendo já parcialmente devorado ainda luta para se salvar. A Arqueologia é a minha Danae! Não sei se sou Zeus ou Polydectes, mas serei os dois certamente. Por isso os meus lamentos não são lamentos de moribundo. Tenho dentes fortes e mãos como pedra, conheço-me como um espirito irrequieto.
Prometi como disciplina nunca falar tão directamente de mim. Assim como não me colocaria no panorama das criticas politiqueiras, ou até mesmo, vir a tecer criticas a outro blogue. Mas não resisto a fazer elogios! Hoje, este texto surge com outra disposição, extraordinária ao ordinário do meu comum. Vem como resposta a um amigo, que tendo um blogue a sério, e que pela minha interpretação saíu da sua forma habitual e coerência bloguistica para fazer referência a este espaço. Gostaria de poder explicar-lhe mais pormenorizadamente o porquê de não ter a escrita bem tratada, o porquê de não ter tido mais trabalho com a configuração da página, e outras coisas mais. E deve-se sobre tudo á falta de tempo. Afinal eu estou no local de "trabalho".
Este Post é a primeira mensagem que envio via blogue. Lamento desiludir os que se indentificaram com qualquer dos meus textos, mas eu tento ser sempre generalista. Hoje, mando um grande abraço para Ti Marcos Osório.
Só tu para me obrigares a isto.
És um pulha dos que eu gosto mais. És uma daquelas excepções!

Abraços de carne e osso