terça-feira, março 16, 2004

Achtung

O diabo anda á solta
Saltando pelas armarudas
Voando por cupulas doiradas
Dissolve-se nas cores dos vitrais.
Espreita as virgens distraídas
Esconde das velhas os dedais
O diabo anda louco
Goza com o mouco
Canta para o rouco
Rouba a quem tem pouco
E vai enchendo os odres
De vinho azedo e maças podres.
O Diabo é de má rés
Tem cascos em vez de pés
Bate com eles as castanholas
Ri-se a bandeiras despregadas
Faz gritar crianças nas escolas
Deixa as contínuas atormentadas
Cria borbotos nas camisolas
Vende estradas engarrafadas
Parte as cordas das violas
E as antenas atordoadas
Já não sabem o que emitir.
Os aviões perdem-se no ar
Soldados disparam contra o mar
Os rádios só fazem ruído
E o diabo que é atrevido
Vai pondo casos no ouvido
De quem tem dentro muito fel
Gera-se na praça um escarcel.
Cuidado com o Diabo
É fresco e faz-se de coitado
Já dei por ele sossegado a rezar
Tentando enganar a Deus
Esfregava os olhos como a chorar
Mas usou lágrimas de Filisteus
Editou uma moderna brochura
Diz que tudo é sol de pouca dura
Para quem sofria de Neurose
Receitou-lhes uma leve overdose
E vai-se rindo este Diabo
Este anjo amargurado
Que hoje há, quem sem o ser,
Seja competitivo profissional
Não tem titulo de diabo
Mas domina os negócios do mal
Tenham cuidado, muito cuidadinho
Desconfiem mesmo do vizinho
Já nem o Diabo pode ser feliz
Nas estranhas terras deste País.




Nas asas da boa disposição

Sem comentários: