quarta-feira, março 10, 2004

Certa vez...

Comprei um contador para substituir o calendário usual.
Foi numa loja de antiquário que o encontrei.
Andava eu a vasculhar curiosidades por entre as velharias e o cheiro a madeira restaurada quando encontro este objecto invulgar. Á primeira vista não teria grande utilidade, pelo menos que justificasse o gasto das minhas magras economias, mas adquiri o gosto pelos objectos inuteis desde que aos 5 anos comecei a coleccionar latas de sumo vazias.
Enfim, tive de adquirir a peça...
Com grande espanto descobri que este era um contador deveras invulgar. Ao invés de contar os meses dia a dia, tinha o estranho poder de os converter em semanas. Ou seja, não encontraria as habituais colunas 7 por 5, mas sim, 4 colunas por uma. Anuncia a mudança de cada semana com um digito que caí sonoramente, um "clic" que demonstra o seu mecanismo de rodas dentadas tal qual um velho relógio Suiço. CLIC.......semana.....CLIC.....semana....CLIC.
Com alegria constatei que as semanas passavam muito mais rapidamente. Tudo voava á minha volta, tudo se apressava para o novo Clic.
Por determinadas razões eu ficava feliz.
Não acreditando em magia, este contador, estava visto que, conseguia alterar a realidade e vencer uma das mais rigidas regras do nosso universo: O TEMPO.
Apliquei um pouco a minha percepção para compreender quais as vantagens que daqui poderia extrair. Todas elas revelaram estar ligadas aos sentidos. De repente, fumava aquele cigarro do intervalo no trabalho muito mais cedo. Tomava o café no final do dia em amena cavaqueira muito mais cedo. Deliciava-me com uma iguaria muito mais cedo. Levantava-me mais tarde, porque afinal de contas já estava atrasado. Entre outras situações.
Porém, porque quando não surge um "mas" recorre-se ao "porém", descobri uma desvantagem (Não sei porque inventam sempre uma desvantagem quando tudo poderia ser mais saboroso!?). E acho que era a vingança do tempo, essa instituição assumida vigorosamente de forma ditatorial nas nossas vidas. Aconteceu que fiquei com muito menos espaço para me dedicar a uma série de actividades! Pois o meu relógio começou a marcar dias quando antes registava horas. E matemáticamente, de 24 passou para 7. São 17 unidades de diferença. Apercebi-me da loucura que estava a viver.
A velocidade substituíu o tempo, e agora tinha de fazer mais calculos para orientar a minha vida. Qualquer coisa do género 200km por dia, ou km por semana, e não me podia limitar a multiplicações, tinha de utilizar divisões, subtracções, raízes quadradas e bases exponênciais.
Mas, como nunca fui grande espingarda a matemática hoje em dia chego sempre atrasado aos locais que não esperam por mim. Então lembrei-me que a terra é redonda e que uma forma de conseguir trapacear o sistema das semanas seria andar ao contrário, porque como a terra estava sempre a girar mais rápidamente, e os meus passos ás arrecuas eram um pouco mais lentos, acabaria por ir dar ao local certo no algarismo correcto através do "delay" conquistado.
Esta é uma grande confusão a que me tenho habituado majestosamente, pois vou aprendendo a coroar os dias com ansia dos pequenos prazeres.
Por falar nisso, tenho de me ir, pois está no dia de fumar o meu cigarro.

Sem comentários: