domingo, dezembro 05, 2004

O eremita sentado

Parto
Se não parto
Se não parto, porque fico? Talvez porque tenho na permanência a mesma certeza que tinha na partida. Antes sabia que era mesmo assim, agora sei que sou mesmo assim. Dúvidas? Surgem sempre creio, sobretudo aos que gostam de questionar. Sou eremita e pouco mendigo, contudo questiono-me também se o serei efectivamente. Sei que sou o que um determinado, ou indeterminado, espaço de tempo, conjuntura, realidade, desenlace ao qual emprego apaixonadamente as minhas forças, me captura, por cedência e entrega desprovida de arrependimentos, na qual me deixo partir.
Sendo assim, mesmo quando fico, parto. Deixo-me ir como sempre fiz. Não é um ímpeto, é antes uma vontade própria. Propriamente uma vontade minha, que permanece desde que a mesma, a vontade, permaneça. Afirmo-me vagabundo, viajante, mas se me perguntarem se voltarei a partir, digo que não, sabendo bem que já o fiz desde o momento em que o rosto de quem pergunta esboçou o mais leve traço de dúvida, e eu me apaixonei pela ideia de adivinhar o movimento sonoro dos seus pensamentos

1 comentário:

rosa disse...

então não voltes a partir. e assim parte comigo, seja de que forma for.