segunda-feira, maio 24, 2004

Por vezes

Por vezes deixo-me ir negligentemente pelas ruas carregadas de linhas e miragens
Sigo a intuição sem a racionalizar e do meu corpo sinto apenas a sola dos pés
Nestas andanças quero pensar que o vento me dirige no meio da civilização
Já quando estou no campo ganho propósitos em cada pormenor que descubro
Por vezes baixo-me para apanhar um galho solto, inclinando-me com o meu nariz
Sinto aquele cheiro a terra e vida, e os meus olhos ganham novos tesouros
Ao ver os seres fervihantes que os meus pés cegos desdenham
Por vezes chego-me á beirinha da linha de comboio, mesmo no limite do patamar pétreo
Armo-me de sentidos e abraço a luz que ilumina vidros, metal, a pele do meu rosto
Vou absorvendo o mundo sempre que dele saío, como se Eu fosse todo mãos, todo boca
Tenho aquele desejo de provar todas as sensações que se escondem
Por vezes, sento-me num sitio improvavel a disfrutar o meu silêncio
Se por vezes falo demasiado, no fundo, acho que sou uma pessoa silênciosa
Talvez tenha a crença de que quantificar e qualificar com palavras não chegue
Compreendo quem pinta, quem toca solitáriamente um instrumento,
Respeito quem escreve
Por vezes julgo que fiz de tudo isto a minha religião, caso tivesse religião
Acho que a susbtituí por outra palavra: Filsofia. Sempre é mais pensada e mais moderna
Pelo menos é mais acessivel a todos e a mim. Não tive de ir para um Seminário Papista, entenda-se
Por vezes, sentado na minha cadeira ergonómica, relaxo e inclino-me para trás
Deixo-me embalar pela tontura ligeira do sangue a percorrer as minhas veias
Parece que espessa tanto que se pode sentir a sua circulação
E imagino que começo a acompanhar o movimento giratório da terra, no mesmo sentido
Devo fazê-lo inúmeras vezes no meu quotidiano, mas não é hábito ter consciência dele
Por vezes, gosto de estar com amigos e esquecer as preocupações
Outros braços são mais generosos e embalam-me para além do mundo
Neles cada poro é um universo a explorar e nada mais interessa, até que voltamos á luz do dia
Mas é Só, é quando estou sozinho que me deixo a mim mesmo
Refugio-me no exterior e dispo-me de tudo
Disperso-me pelas nuvens, navego em todas as ondas
Sedimento-me nas dunas dos desertos
Tudo me sabe tão bem Por vezes



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