quarta-feira, maio 04, 2005

Madrugada

sonhei que deslizava sobre o tejo como um comboio
sonhei aperceber-me de que a torre de belém é em verdade um navio
como outros tantos navios a cortar as águas
sonhei que a torre arrancava da margem e se fazia ao rio
para navegar
assim como de repente todos os edificios de lisboa não eram mais do que naves
com quilha e leme
e todos partiam para o mar
sonhei que a cidade branca se transformava num deserto
e no meio do deserto nascia um candeeiro
alumiava intensamente os pensamentos de ninguém
pois nem sequer se ouvia o estalar de grãos de areia sob solas de sapatos
era o silêncio o doce que se barrava nos pãezinhos frescos sem fome
deliciado
sonhei que estava abraçado ao candeeiro
para não o deixar partir
recusava-me determinante a que fosse
também ele
um barco como os outros barcos
mas aquele Candeeiro era diferente
alumiava ninguém
tinha medo de parecer constantemente
mais do que aquela tamanha luz aos olhos do mar
sendo assim tão inatingivel
como abraçar um só grão de areia

2 comentários:

Maria disse...

Tenho de te agradecer os momentos de leitura que me proporcionas.
Fazes-me lembrar de mil coisas e não pensar. E não pensar. Só sentir de algum modo o que escreves.

Artur disse...

Então serve
E estas palavras não se perdem apenas em mim