domingo, junho 13, 2004

Um paquete junto ao Rio

Ontem, já de noite, estando eu no banco de trás do carro que passava junto ao Rio Tejo, percorria de olhos deslumbrados os brilhos artificiais da nocturna humanidade. A ponte 25 de Abril enfeitada de luz, assim como alguns edificios das margens que barram o caminho á água, iluminava o céu com a sua silhueta elegante e metálica, fornecendo o melhor cenário para um paquete ancorado no Rio. Um paquete também ele cheio de luzinhas a tremer sob a vigília das horas tardias.
A velocidade dos traços e brilhos lançaram-me em mais uma viajem ao recordar aqueles filmezitos que via aos Domingos, retratando viagens fabulosas de Barco. E aí estava eu a viajar de Barco, num gigantesco Paquete, forrado de personagens interessantes e caricatas, preciosas para engrossar com páginas de papel a nossa ávida imaginação. Apesar de me parecer que estaria inserido num ambiente declaradamente Burguês e Aristocrático, a verdade é que nada disso importa, tendo mesmo o seu quinhão de Romântismo.
Um escritor, duas mulheres verdadeiramente geniais que vão dominar a acção, médicos, empregados de roupas brancas, gaivotas, enginheiros vindos de uma empreitada em África, um repugnante e políticamente correcto Politico, senhoras recatadas, senhoras acesas, crianças incautas no meio do convés, a brisa sempre fresca, senhoras de botins e vestidos Victorianos com chapéus desmesurados de tamanho e opulência, os musicos de uma banda, Smokings, fatos de gala, o D. Juan, polozinhos brancos de risquinha na gola, calções bem engomados e vincados, bebidas numa cadeira de praia, o capitão de barba Perfectly Shaved pescou um troféu com que arrancou as palmas dos passageiros, um jovem casal insinua-se discretamente sem que os seus respectivos conjuges deixem de desconfiar de Flirt, fitas com triângulos coloridos e musica por todo o lado. Pequenos almoços indispostos, Jogging, leituras de jornais internacionais, conversas que saltam de língua em língua, Alemão, Inglês, Francês, os Italianos e os Espanhois falam sempre mais alto que todos os outros! Empregados indianos, latinos loiros e morenos de cabelo ensebado de gel brilhando mais que os cromados do Navio. Uma grafonola, e Maria Callas. Todo o Navio a dançar num final próximo de um musical, surgindo cenas á parte em que os casais enamorados se encostam ao mar, escondendo os seus diálogos no rugir do Oceano, e resolvem finalmente casar para ter muitos filhos, voltando a acção para o musical dançado, novamente a uma cena de desfecho, e assim sucessivamente, equanto que um Senhor distinto e simpático de Lunette dependurada, comenta com o capitão os agradáveis episódios passados a bordo.
CENA FINAL: O Navio chega ao Porto onde tinham contratado uma série de figurantes para receber a nave branca ofuscante de luzinhas no meio do Rio. Todos estavam entusiasmados e eufóricos com a sua chegada. Tanto os tripulantes como os passageiros do Navio sorríam acenando para a mancha de multidão. Estendía-se a passadeira e um grupo irrequieto de marinheiros saía do Paquete vindo não se sabe de onde, amarrotando os seus uniformes de encontro aos braços das jovens que os esperavam em bom Porto.
Está feito o meu filme de Domingo!

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