terça-feira, junho 08, 2004

O Milagre Dulciferante

...Uma luz meiga atravessa as nuvens para incidir sobre a transparência exposta de um jardim esquecido logo a seguir á primeira Feira despoletando este milagre dançado...

De uma volta cresce outra volta
Num rodopio dançado de frenesim
Lançando-se em crua antifonia
De anjos de mármore cansados.
De uma volta nasce nova volta,
Rangendo mundos ao torcer do tempo
Roda Viva aspirando loucura
Mordendo quiméricas revelações.
Alongando as noites
Estendem-se as manhãs como tapeçarias coloridas
Desenham-se novos motivos
Para sobre eles Dançar nova dança.
De uma volta cresce outra volta
Num rodopio de conceitos idilicos
Que se desfazem contra a luz ténue
Revelando a máscara da diafanidade.
Desprendem-se os espaços
Deslizam preces opiáceas pintadas de magenta
Iluminam-se os vitrais superfluos
Para que o nada renasça irisado
Na revolta da dança síncopada
Quebrando em milhares de vidros cortantes
A ténue limitação da verdade
Erguendo-lhes um prodigioso leito...

Para que os anjos de mármore se libertem
Dêm voltas, contravoltas, rodopios
Dançando sobre a mais pura simplicidade.
Para que a sua pele pétrea e cansada
Renasça nos golpes agudos de luz contida
Ganhando feridas mortais, de sangue quente.

Eis o milagre:
Os anjos puderam desprender-se dos pedestais,
Agrilhoados estavam como em prisões apodrecidas
Subservientes á sua perfeição,
Castigados pela sua rigidez
Como águas estagnadas no meio das correntes.

Os anjos que beberam a luz, esticaram asas
E abraçaram o paraíso da imperfeição

Os anjos de peito e costas rasgadas
Dançam ás centenas no segredo dos jardins esquecidos.

Rodopíam sobre o seu passado de pedra.



Sem comentários: