quinta-feira, abril 01, 2004

ANTIGRAVITACIONAL

Tenho um amigo meu que anda sempre de cabeça para baixo!
É igual e normal a qualquer um de nós, a diferença está em ter o queixo onde fica o cabelo, e a boca por cima dos olhos.
Por vezes tenho problemas com ele. São assim coisas básicas, tipo: não, os barcos e os cães não voam. Os aviões é que voam e o céu, apesar de ser azul não tem nada a ver com água. Os astronautas não são nada mergulhadores.
Porém, há coisas divertidas nele. Um dia farto de ser chamado na rua por careca decidiu deixar crescer a barba. Quanto ao cabelo, que acabou por rapar, pois como já ficava grisalho parecia um daqueles barbudos do Hezbollah, e como tinha uma prima no Estados Unidos que queria ir visitar, lá acabou por se sujeitar á Lâmina.
Mas falo-vos deste meu amigo para vos testemunhar a sua maior alegria, aquela que eu invejo mais. Sempre que surge a noite, que ao contrário de nós, para ele nunca cai, este meu amigo estranho vê o chão a cintilar de estrelas e a Lua vem de vez em quando guardar-lhe os passos. Quando tal acontece ele deixa de falar connosco. Mas não o levo mal.
O meu amigo diverte-se a ver os planetas a passear pelas galáxias, a seguir as estrelas mais apressadas que correm de um lado para o outro, e a observar os mergulhadores enfiados em fatos engraçados e submarinos invulgares. É o melhor momento da sua vida.
Durante o dia não é tão feliz, apesar dos pássaros que mergulham de cabeça para baixo nos céu profundo e límpido. Mas não se sente compreendido pelos outros e julga que não tem lugar em lugar nenhum. Então um dia, ouve da boca de um velho que cuja boca se ligava de um lado ao outro separando a cabeça em duas partes distintas tendo para sua segurança mais um braço com o qual segurava a parte superior do crâneo, ouve da sua profusa boca, que o melhor sitio do mundo para as pessoas que não se identificam com o mundo normal e entediante, o único sitio, e onde ele trabalhou feliz durante muitos anos, é mesmo o Circo.
E o sonho nasceu na cabeça ao contrário do meu amigo.
Certa noite, guiado pela lua, caminhando por ruas estreladas, fez-se á vida e foi procurar um Circo onde o aceitassem. Depois disto nunca mais o vi.
As noticias que me chegam dizem que tem um número de circo em que faz o pino durante 6 horas seguidas, desempenhando malabarismos e truques de magia ao mesmo tempo. Além disso tem uma tenda onde alegra as crianças com histórias desconhecidas de planetas distantes que se só mostram de noite.
Hoje, o meu amigo é feliz, vive no circo o unico sitio onde nos podemos encontrar em harmonia entre dois mundos, onde tanto faz andar de cabeça para baixo ou para cima.

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