sábado, outubro 16, 2004

De um quarto minúsculo

Depositado no meio da escuridão
O quarto avança sobre mim de paredes distorcidas, contorcidas.
De Joelhos abraçados em posição Fetal
Choro em prece para que tudo despareça escondendo os olhos.
Do lado de fora sente-se somente o Frio.
Não é dor que se compare
À raiz que é arrancada da sua vida.
Estou onde não quero estar,
Sou o que é necessário ser,
Bela Meretriz que se faz à estrada.
Maquio a minha cara com satisfação
Guardo o pagamento como se fosse fundamental
Prossigo apenas com o que mais se espera de mim.
Neste quarto cada vez mais minúsculo, dispo-me para ti.
Amo, entre as lágrimas vertidas da minha Alegria
Danço, com membros de linho a repousar em pele
Engano-me com a tua despresença.
O quarto que me oprime é o próprio esconderijo
Carcere onde me entrego
O dia seguinte
A continuação do que se espera de mim
Sou o que sou
Meretriz
Dou o meu corpo a quem me paga
Sou profissional
Ando pelo mundo como outros tantos,
Acredito ser possível guardar-me sem mácula
E restituir-me, EU, eu mesmo, sem espectativas
Dar-me sem medos das minhas dores
À tua doçura, ao carinho com que me lês.

2 comentários:

Maria disse...

há almas sem máculas. o não-poeta e o arco-íris de sombra. unidos. juntos. com estradas a separar. com alcatrão a fundir o amor. com cheiros que não se esquecem nem com vários banhos. há muito mais dedos entrelaçados e pensamentos fundidos mesmo sem dizer que as estradas e o vazio negro de não se saber o amanhã. porque o difícil faz o impossível. e esse são vocês.

uma admiração por vós. grande.

*

Maria disse...

o impossível de haver um amor maior que comporte poesia, música e corpos de poetas unidos.

se eu tinha dúvidas sobre a definição de amor nos outros, a definição são vocês.

*