domingo, setembro 12, 2004

Testemunho de um momento de espera

Passavam na rua por mim, as horas. Estava cansado da espera.
Imaginei que me sentava num banco de jardim, imagem construída mentalmente como ideal mais generoso ao meu desejado sossego, fosse este o local apropriado para poder esperar o tempo que me esperasse, esperar.
Sentei os cotovelos sobre os joelhos dobrados a sobressair do banco de ripas de madeira encarnadas. O corpo, não vendo o momento desta sinuosa demora terminar, pois nem mesmo de olhos escancarados a alcançava , pôs-se a fugir entre as fendas do assento. Devagar, num movimento lento, como dor a escorrer em derrames elásticos, matigados, a rebentar até à extensão máxima da sua própria explosão, lá se escapulia. Esta matéria, como que às fatias, ameaçava escoar-se pelo banco procurando tocar o chão, arriscando o contagio de uma qualquer doença. Cedo aprendemos que não devemos lamber o solo por onde caminhamos: "o chão é imundo". Em verdade, não conheço ninguém que tenha lambido tal superficie. Logo, ninguém me poderá dizer que sabor tem.
Com esta dúvida fiquei ali pendurado a cogitar qual seria o eventual sabor a chão. Não me poderia ter ocorrido algo mais conveniente a mascarar o desespero daquela espera.

1 comentário:

Maria disse...

Vou fazer deste testemunho meu. tenho de. de momento tenho ainda um nó na garganta mas agora de tanta alegria sufocada. revi-me em cada sílaba. porque sei que sou uma criança ainda mas tenho passado sempre ao lado do muito mau e também do muito bom. e assim atingi pouco a pouco o equilíbrio que nunca julguei alcançar. sou daquelas pessoas que estão constantemente a pensar. SEMPRE. mesmo quando estão com o olhar perdido. e nunca me julguei capaz de atingir estas metas todas. e assim fui desenvolvendo uma estratégia de vida que me transportou até Hoje. e neste texto cada palavra afirma-se minha, perdoa a insolência. mas de facto o momento de espera era meu ( e de muitos e em variadas circunstâncias )mas hoje vou ser, por uma única vez, egoísta e vou achar-me capaz de finalmente pensar e ser a palavra Viver. Um Obrigada extensível a ti por este e os demais textos e por mais além... por dares à minha Irmã o "Isto" que ela tanto almejou. beijo *