domingo, agosto 08, 2004

Não vou de partida

Como a bruma caminho cuidadosamente sem tocar no chão
Não quero deixar passos nem trilhos de lágrimas esquecidas.
Apago as marcas do meu corpo fracturado no gume da despedida
Disfarço as convulsões e espasmos de dor que me silênciam a voz
Ergo-me da cama quente do teu corpo.
Não quero que me sigas! Não quero que me vejas esfarrapado.
Parto como um traste parte, quebro-me como se quebra pedra
Dinamitado
Localizadamente
Rebentando de uma só vez
A engolir o meu próprio estrondo
Para que ainda tenha uso, cortado, fragmentado, por inteiro.
Deslizo sem palavras, sem gestos, sem promessas, sem ti
Sem passos ruídosos, cerrando o véu tecido das tuas saias.
Sem te beijar em despedida.
Agasalhado com trapos, seguindo cuidadosamente,
Por entre a chuva de nuvens,
Na estrada de piso endurecido
Soerguendo o corpo estilhaçado
A rasgar as costas para que delas surjam asas
Por querer disfarçar o peso dos passos moribundos
Sem te despertar.
Parto apenas por agora
Voltarei, sabendo colar novamente os meus pedaços
Despido de choros, sem cicatrizes de dor, de pele mais macia
Voltarei, absoluto do meu retorno negando a despedida
Renascendo ao teu lado
Como quem acaba de acordar.
(Não saí de partida)

2 comentários:

Anónimo disse...

Como vim cá dar, já não me lembro... Este post é só para que saibas que está cá alguém deste lado.

Anónimo disse...

sabes que nao vale a pena, eu vejo os teus farrapos sob a tua pele. ja te segui numa dimensao, na outra espero-te junto a serra.
(rosa)