domingo, agosto 08, 2004

Amigo imaginário

Compreendi que tinha um amigo imaginário estava eu a sentir o calor abafado do chão a queimar as primeiras chuvas de Agosto. A temperatura e a humidade tornava tudo tão desagradável que só queria encontrar uma porta por onde pudesse fugir apressadamente. Nesse momento apercebi-me de que poderia sair desse estado incómodo aprofundando um estado superior, mais perfeito, mais onírico. Rebelei-me e parti para outra dimensão, longe do que não suporto, afastando as despedidas, as marmanjices dos empregados de café, a antipatia da tipa da máquina de fiambre, os problemas inesperados, as contas, o calor abafado das chuvas de verão, a escassez de tempo, as imposições sociais, politicas, fiscais, burocráticas, a barba que nunca deixa de crescer, as unhas que nunca deixam de crescer, os kilos a mais, as dores de costas, as torradas queimadas, o estar farto de empresas de arqueologia, os Domingos áridos, o facto de nunca estar onde quero estar, o nunca ter tempo para nada, o tempo que passa sempre a correr, e todos os pequenos desajustes da vida que me fazem praguejar pontualmente.
Fartei-me de tanto aborrecimento e pedi ao meu amigo que resolvesse tudo por mim, que suportasse estes aborrecimentos. Ele não se negou, aprendeu até a queixar-se por mim.
É realmente soberbo descobrir um amigo imaginário em nós, que se dedique ás tarefas de formiga e nos permita fugir da regularidade, que nos deixe andar de braços erguidos a tocar o céu, ou a dimensão harmoniosa a que apelidamos céu.
E ainda agora, o meu amigo está ali ao lado a fazer a mochila da penosa viagem, que ele vai fazer por mim, enquanto que eu fico onde estou, a escrever, a viver só as partes boas.

2 comentários:

Anónimo disse...

olha que fixe!! encontraste quem te ature quando estas de mau humor!!
:p
(rosa)

Anónimo disse...

...sabes Artur, o teu amigo imaginário, para além de ser em tudo igual a ti e analógicamente diferente é também igual ao meu, que descobri há uns anos, exactamente quando a mesma mente luminosa, diurna, soalheira tornou-se, com uma facilidade química, em bruma nocturna, nublada, sem querer magicar, fluir... a tal facilidade química... O meu Amigo, hoje, perdeu-se, está confuso, como uma célula sem código de funcionamento, porque a mente (a mesma que se tornou obscura) passou a gostar do que não gostava e mais! Aguenta-se nas próprias costas, largas, e contempla o que há de bom e o que há de mau. Apesar do equilíbrio ser sinónimo de mediocridade, há um meio termo agradável, em que só o simples e natural facto de existirmos prevalece e reina... Há pouco tempo andávamos juntos... Agora o meu Amigo está a desaparecer, está a voltar a mim!!