quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Televisão

Um grupo de cinco crianças curiosas decidiu-se a explorar um velho báu empoeirado. Estava guardado á tanto tempo que os mais velhos não se lembravam mais da sua existência.
O mais intrépido dos miudos era o "P", era assim que lhe chamavam, e vinha do seu nome de familia. Fora ele quem decidira abrir o baú que o Flipe descobrira numa daquelas suas manobras malabaristicas que se lhe conheciam, pois era o mais desajeitado de todos. Andava sempre a cair. Os pais para evitarem as suas quedas tinham instalado lá em casa um sistema anti-gravitacional concebido pela Nasa, pelo que ele desde os 5 anos via os seus sonhos assombrados por um Newton furioso.
P, decidira que deveríam juntar esforços e conjuntamente abrir o Baú que deveria encerrar os mais varidos tesouros. E todos nós sabemos o quanto as crianças cobiçam os tesouros. Partiram todos equipados com os objectos que acharam mais apropriados entre os quais se encontrava uma lanterna roubada na garagem do pai do Raul, o boneco da irmã do Pedro, e um compasso.
Eis que depois de sacudir a poeirada toda, depois de muito tossir e, de muita esfregadela de narizes irritados, lá se abriu a velha tampa. A lanterna lançou a sua luz e os miudos viram dentro do baú um sotão empilhado de velharias. P decidiu que deveríam entrar.
Depois de bisbilhotar todos os cantos, encontraram um enorme skate, uma corda, um motor, e uma caixa de bolos que ainda estavam bons. Já o mapa estava um pouco amarelecido, mas ainda dava para notar aquele "X" a Vermelho. Carlitos, o mais velho de todos, agarrou no seu compasso e traçou umas linhas concêntricas, pelas quais afirmou terem encontrado um mapa. E mais uma vez fora Flipe quem tropeçara num caixote, e derrubara um lampião que se partiu. Quando foi para apanhar os vidros, procurou uma pá e uma vassoura, encontrou ao lado de uma picareta, uma pá e uma folha escondida dentro de uma garrafa. Pensava usar a folha como vassoura quando Carlitos lhe tirou o papel da mão. Agora a vassoura era um mapa, e todos gritaram de alegria, com a curiosidade a gemer sob os saltos que davam de entusiasmo.
"Vamos caçar um tesouro": Diziam. E lá foram, antes que se fizesse tarde.
Carlitos, mais uma vez opinou...viu que os circulos que traçara estavam um dentro do outro, e portanto, deveria haver outra porta, outro Baú. P chegou-se á frente e insinuou que só poderia ser a caixa onde Flipe tinha tropeçado. Verificaram a suspeita que se veio a verificar. Era um baú ainda mais velho que o primeiro. Abriram-no, coçaram os narizes, espirraram e entraram no Baú.
Estavam no meio do nada. Uma mata adensava-se em frente, e ouviam-se barulhos assustadores de pássaros inimagináveis. P meteu-se á frente e decidiu democráticamente que deveríam todos entrar na mata. O tesouro só poderia estar dentro dela. Mas Carlitos dizia que ainda faltavam dois circulos. P nem o ouviu, já tinha atrevessado a primeira linha de vegetação.
Subitamente um rosnar cercou-os por todos os lado e surgiu um enorme cão furioso.Provavelmente seria o guardião do tesouro, mas quem é queria saber de tesouros naquela altura. O Pedro atirou-lhe com a boneca da sua irmã e o cão hediondo ficou ocupado por uns segundos. Montaram todos a prancha, ligaram o motor e fugiram sem destino.
Assim que se acabou a gasolina, a prancha parou, e os 5 miudos estavam perdidos, no meio da escurdão, sem qualquer tesouro. Flip deixou-se cair para trás. Estava exausto. Os outros também. Decidiram comer os bolos junto ao lago ali em frente. Raul lançou a ponta da corda para dentro do lago. É que para além de gostar de atirar coisas tinha desenvolvido com seu pai o gosto pela pesca.
Terminados os bolos, veio o a tristeza. Estavam perdidos. P atira furiosamente uma pedra para o meio do lago e uma onda nasce do local onde a pedra foi arremessada. Esta formou um circulo e Carlitos ergueu-se em sobressalto pois este deveria ser o penúltimo circulo. E o curioso é que no centro do circulo surgiu uma esfera brilhante com um "X" vermelho marcado. Era um reflexo da Lua. Os cinco putos puseram-se a subir pela corda em direcção ao centro do lago, estavam a um passo de chegar á lua. Chegados ao destino, correram para o "X", pegaram nas pontas deste e descolaram-nas. Por debaixo do adesivo estava um Baú. Este era mais velho que os tempos. A ansiedade era muita, e mais uma vez espezinharam a curiosidade saltando-lhe em cima.
Espirraram, tossiram, esfregaram os narizes e abriram o baú...estranharam o que viram. Só encontraram umas escadas. P diz: "vamos embora, toca a andar" - e lá foram eles. Entraram numa sala onde cinco crianças, fartas de só verem telenovelas, malucos do riso e Marinas Motas, haviam decidido fazer algo de divertido e propuseram-se a abir um velho Baú.

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