terça-feira, fevereiro 17, 2004

IN SHA'A ALLAH
Oxalá

A cultura islâmica deixou-nos traços ainda que indeléveis, por vezes quase inelegiveis, que se misturam na nossa herança Europeia como tinta na paléte de um Deus pintor.
O termo "oxalá", significa "Se Deus quiser", e tem a sua raiz na palavra, que á primeira vista sobre a lingua desconhecida, nos confronta com um ponto de interrogação. Mas apesar do fervor islâmico, o nosso "oxalá" tornou-se uma expressão quotidiana, vulgar. Eu sempre a utilizei quando a natureza tem caminhos que parecem estar para além da minha força de controlo. Sejam eles momentos de dificuldade ou mesmo de prosperidade.
E perante a lei Islâmica, o "in sha'a alla" significa a entrega Deus, sendo o seu orador um novo "Abd", um novo servo de Deus. Então, este inicia a sua peregrinação( o "hajj" ), entregando o seu caminho a Deus todo o poderoso e sapiente, o pai de todos.
O que nos leva a nós Portugueses, herdeiros de uma variedade cultural tão vasta, a evocar esta expressão? Já é admirável o "oxalá" ter escapado á censura que a Igreja Católica imprimiu no passado.
Não vemos mulheres vestidas de "Chador" ou de "Burka" pelas nossas ruas, nem as encontramos representadas na suprema arte de azulejaria Portuguesa, mas de facto, parmanecem em nós traços caracteristicos dos povos dos desertos.
Quando o Português declama a sua paixão pelo mar, julgo que se esquece que também teve em tempos o deserto como casa. Quem sabe, não foi isso mesmo que o tão desejado D. Sebastião descobriu, e prefiriu, ao invés de ser Rei de Mares, viver como principe das areias, viver no meio daquela terra escaldante, onde um dia três reis se defrontaram e encontraram a paz?!
Já agora, continuando a epopeia Lusitana, que começou a partir do momento em que os pastores se romanizaram e desceram das montanhas para a boca faminta da civilização, dirijo-me para outro oceano, e este está já esquecido na nossa memória, para falar um pouco mais de espiritualismo. O tema agradou-me.
Os Indianos com o seu Budismo são muito mais especificos que nós os cristãos e muçulmanos. A sua religião está muito mais pensada para o ser humano. Ela define etapas da nossa vida.
Mas não se admirem ou criem pressupostos, lembrem-se que também Piaget, lido pelos psicólogos, aplica diferentes fases, estadios, etapas, ao nosso crescimento desde a infância á adolescência. Vai-se mudando a linguagem conforme os séculos...
Sendo assim, os budistas encaram a vida com o "Dharma", que se divide em diferentes objectivos a que o homem se deve propôr. Resumidamente aponto o "Moksha", ou seja o renascimento. Para o qual necessitaremos de atingir o "Sanyasa", um dos "Brachmacharya", e que se traduz numa total renúncia do mundo. Esta meta, entendi que deverá ser alcançada quando nos afastamos do "Svpra" (estado de sonho) ou do "Sushupta" (sono profundo), para atingir o Turiyna (super-estado). Pela concepção budista tudo depende do homem. Já pela concepção popular: "in sha'a allah" (oxalá). Não admira que Nietsche tenha elogiado o Budismo em relação a outra religiões.
Mas o que escrevo não tem o intuito de valorizar o Budismo. Há muito que olho para as religiões com curiosidade, sabendo que nelas existem ideias generosas, mas apenas isso. Não me considero um fiel, preferindo olhar para dentro como um individuo susceptivel a influências culturais. E como tal, pergunto-me porque razão o budismo não teve uma presença mais forte entre nós, o povo que converteu o Adamastor, e descobriu a "auto-estrada" para as especiarias em detrimentos da rede de "nacionais" Africanas.
Parece-me obvio que terá algo a ver com o poder institucionalizado da época, do qual fazia parte integrante a Sagrada Igreja. Hoje, a Igreja já não é tão sagrada, mas o facto é que continuamos a ser romanos, e infieis muçulmanos.
Pergunto-me se estaremos assim tão presos a laços genéticos? Se caso tivessemos sofrido uma ocupação dos povos da India não teríamos vocábulos evoluídos de expressões religiosas? Na alternativa de não termos nada que nos prenda a nivel genético, então porque permanecemos acorrentados a uma velha cultura que as várias revoluções puseram de parte? Estaremos á espera de uma nova religão globalizante? Ou aguardamos nova invasão? Será que este fenómeno de anti-globalização já vem de há uns séculos atrás, fechando os canais de trocas de ideias a conceitos caseiros?
Parece-me que resultamos de culturas globalizantes, religiões globalizantes, que tendo sido impostas pela força, resultam hoje em pormenores insconscientes contra os quais não existe sublevação.
Mas não deixamos de desejar a mudança!

O que escolher?
Sopas de cavalo cansado? Cuscous? Ou Caril?



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