sexta-feira, fevereiro 06, 2004

O Homem de fato cinzento
Episódio III

09:05...Este é o marco na vida do Homem!
Será uma data que por mais que ele viva, jamais o esquecerá!
Existem poucas coisas que marcam desta forma a vida de um homem.
Ele lembra-se!
O dia do nascimento dos seus filhos. O dia em que acabou a universidade com as melhores notas do curso! O dia em que comprou o primeiro fato para o seu primeiro emprego a sério! O dia em que emprestou dinheiro ao seu pai! O dia em que a sua esposa o aceitou em casamento! Aliás, isto está muito caótico. Por ordem:
O dia em que emprestou dinheiro ao seu pai!
O dia em que acabou a universidade com as melhores notas do curso!
O dia em que comprou o primeiro fato para o seu primeiro emprego a sério!
O dia em que a sua esposa o aceitou em casamento!
O dia do nascimento dos seus filhos!
O dia em que foi elogiado pelo chefe como o empregado que ultrapassou os objectivos estabelecidos com mais sucesso!
E estas, são as pequenas grandes marcas do Homem que viveu a sua vida regrada, trabalhando arduamente, que foi admnistrando as alegrias e resistindo aos momentos de provação humildemente.
Mas hoje, abateu-se a catástrofe. Acometido na sua dor, tem por debaixo dos aros brilhantes dos seus óculos, olhos que vermelhos de culpa, que tentam esconder o orgulho partido. Vive agora refugiado por detrás do monitor do seu terminal.
O Homem foi apanhado! Ele sabe-o mas admiti-lo é dilacerante. Só em pensar como enfrentará o seu lar já o põe frenético.
Levantando-se sucessivamente para ir mexer nos manipulos da máquina de café, como se pudesse rodar nelas o tempo, e fazer com que tudo tivesse assim solução. O desespero desenrola-se como numa enorme comichão.
Foi apanhado e o pior de tudo não ter é caído nela, mas sim não ter previsto tudo o que sucedeu. É algo que não se admite. Se não se tivesse dado desleixo ele podería ter evitado o erro. O erro, a falha.
Como poderá enfrentar os colegas de trabalho?
Já consegue antever na sala de tecto baixo, os olhares comprimidos que o irão apertar. Olhos que rebentarão de vingança esmagando contra o soalho flutuante.
Chegou atrasado...foi a primeira vez na sua vida. Tantos anos a calcular o trânsito, a calcular um furo no pneu do carro, um esquecimento da mulher, o ter que ir comprar o pão"frequinho" á padaria, o elevador ocupado, a demora do café, os peões que se atravessam com sinal já verde para os automobilistas, a pastilha que se colou ao sapato e se tornou indesejável, as chaves que caíram ao chão, tantos anos e por causa da amante que arranjou, hoje pela primeira vez na sua vida, chegou atrasado ao escritório.
Uma amante...
Como poderá encarar os seus colegas e os seus filhos. O homem estava a tornar-se num falhado igual a qualquer outro.
Ele sempre o soube, uma loucura é o bastante para nos levar para outra loucura e por aí em diante. No final surgirá o caos onde antes reinava a ordem.
Chegará o apocalipse, afinal a Biblia dizia a verdade.

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