quinta-feira, janeiro 29, 2004

Bolas

Ao percorrer o blogue de um amigo meu, deparo-me com linhas de bolinhas vermelhas suspensas no ar. De repente estou rodeado por bolinhas vermelhas que cobrem todos os ângulos da minha visão. Não me parece assim nada tão anormal porque se me vejo o tempo todo rodeado de ovelhas, isto é quase a mesma coisa.
Ambas são redondas e mamiferas, diferindo apenas na cor.
Como seria de esperar entro numa das bolas. Descubro um mundo novo, mas nada tem de admirável, tal como diria o Aldous H.
Era apenas uma longa planicie vermelha que se estendía de árvores desfolhadas, uma paisagem de total abandono e solidão. O meu espirito não se coadunava à paisagem e fui-me embora antes que aquela brisa quente e suave me envolvesse no silvado da erva vermelha.
Bola seguinte.
Aqui os tons de vermelhos eram mais coloridos e a paisagem apresentava-se movimentada, num ritmo acelarado, como se tratasse de um formigueiro atacado por um gigantesco papa formigas.
Os prédios erguíam-se vermelhos até ás nuvens. Sim, estas eram azuis, rasgadas pelo brilho vermelho do sol. O que causava nos imensos edificios, reflexos em tons de roxo.
As pessoas,na sua maioria ruivas, usavam roupas que imaginamos pelos filmes decorridos no futuro. Não existíam cães nem gatos, e moral, era palavra proibida.
No centro, vía-se um grande varão cromado onde um papa formigas amestrado dançava exóticamente. Foi uma obra do presidente da bola para gaudeo e distracção dos seus laboriosos habitantes.
Na bola seguinte fui encontrar uma população dividida em dois continentes. Para demarcar bem a divisão exisitia uma cópia do mar vermelho, tendo em ambas as margens, várias colunas de metralhadoras enfeitadas com arame farpado. Uma das terras chamava-se Cães Unidos, enquanto que a outra se denominava de Terra da Liberdade. Obvio! Havia chegado à bola dos habitantes gatos e habitantes cães expulsos da bola anterior. Ambos se tinham dividido porque a moral e bons costumes lhes tinham ensinado que um gato que se preze não se daria com um cãozarrão, e vice-versa.
Esta confusão não me agradou nada!
Outra bola.
Entrei num imenso oceano. Sem continentes, sem rios, sem céu. Apenas oceanos com peixes deliciosos, e estrelas do mar feitas de chocolate. A areia era feita de açucar, e as baleias eram gomas de vários sabores. As águas destes oceanos eram de groselha docinha, que dava vontade de beber.
Como a minha mãe é diabética e não me podería ir visitar, voltei a explorar outras bolas.
Bola 756.
Aqui, estava em casa! As ruínas espalhavam-se por todo o lado, com construções magnificas que o tempo se divertiu a converter em escombros. Sussuros em tons de vermelho prometíam falar de hábitos perdidos, de línguas estranhas e sobre formas diferentes de confeccionar o pão, alimento de todos os dias.
As populações, que deram lugar ao tempo tinham um gosto particular pelos motivos geométricos e por casas apontadas em direcção à brisa do mar. Usavam sobretudo recipientes feitos em vime, pelo que a cerâmica era rara. Dominavam técnicas de soberbos processos de fundição.
O vento aqui trazia sempre segredos aos nossos ouvidos. O sol tinha aquele vermelho do entardecer melancólico, apazíguando os corpos cansados de imaginar.
Mas, parece haver sempre um "mas", que raio, e esta bola estava ameaçada por outra bola próxima da sua orbita, bola onde vivíam e crescíam grandes senhores de poder vermelho sanguíneo, que em favor do progresso e das margens de lucro decidiram acabar com a inutilidade da bola das ruínas, existindo já um programa de restruturação de espaços e construção dos 10 maiores centros comerciais do universo, assim com de complexos industriais bem maiores que a Barragem do Alqueva.
Pensei logo em desenvolver uma acção para salvar esta bola. A melhor solução assombrou-se-me como em ir pedir emprestado o gigantesco papa-formigas á bola sem moral. Depois, utilizáva-o para acalmar os animos desta bola pró-evolucionista, e tudo ficaria resolvido.
Fiz-me então à partida.
Acontece que quando saí da bola, voltei a estar rodeado não por bolas mas de ovelhas...a tristeza caíu em mim perante a incapacidade de não poder fazer nada pelas ruínas. Estava separado do mundo das bolas e não sabia como voltar. Abri sucessivamente o blogue do meu amigo para ver se voltava ás bolas, mas nunca tive sucesso.
Agora as vidas passadas estarão entregues ás ruinas do futuro.
Eu falhei na sua salvação...


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