quinta-feira, janeiro 15, 2004

Barish

Saí de casa apressado. Trazía ainda o Sono comigo. Partilhei com ele o pãozinho que comi ao pequeno almoço.
Demos os primeiros passos juntos e reparámos que estava um céu acinzentado.
Estava a chover. O Sono recusou-se a andar mais e voltou para a nossa cama que ainda deveria estar quentinha. Eu tinha de continuar!
Sinto então os pingos de chuva na cabeça. Aquela água fresquinha, na minha pele quente, soube tão bem.
Parece que todas aquelas gotas foram enviadas do céu para me lembrar de que estou vivo. Haviam de ver a festa que fazíam. O barulho seco da sua queda desdobrava-se em "bons dias", ouviam-se os risos minusculos da sua cristalinidade, e outras deixavam-se escorregar de entre os meus cabelos para me acariciar as linhas dos rosto, acabando por se evaporarem no calor do meu peito.
Vivo, estou Vivo! O céu parecia cair sob a forma de gotas.
Olhando bem para cima, um véu prateado precipitava-se como numa sinfonia alinhada desde o infinito até ao desenho das calçadas, ás fachadas dos prédios, aos caixotes e ás paragens de autocarro. A pureza da sua forma deixa um novo brilho por todos os cantos. É como se os elementos mortos ganhassem também eles vida. Somente quando chove!
Brincalhonas, as gotas de chuva, fazem dos passeios passagens escorregadias pelas quais se vêm pessoas, que em passos curtinhos e desajeitados, fazem os possíveis para não se estatelarem no chão molhado pelas gotas que se rasgam de gargalhadas, troçando das estranhas danças dos trauseuntes aflitos.
Eu divirto-me com tudo isto! Continuei a minha passagem com um sorriso de alegria pela festa que se dispunha em sons e brilhos de reflexos. Tinha a testa levemente inclinada, pois as endiabradas gotas tentavam entrar-me nos olhos para as suas brincadeiras. Agarrava o cigarro de forma a que este não se molhasse, e lá ía eu espalhando uma nuvem de fumo com que as inúmeras goticulas se divertíam a furar, fazendo desenhos.

Foi assim porque choveu, é sempre assim quando chove. Tal como no dia em que estava num circulo de Indianos, debaixo de uma árvore, rodeando uma lata com madeira a arder, e, aprendi a dizer "Barish" com senhor Singh. Quer dizer sonoramente: Chuva. Barish...Barishhhhhhhh

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