terça-feira, junho 27, 2006

passagem

Existe em mim outra pessoa. Tem o hábito da fuga, a pressa dos instantes, detém a paixão pelos movimentos eternos. Encontrou um caderninho antigo no outro dia. Parecia estar esquecido. Ambos estavam esquecidos. Folheou o caderno avidamente como se o passado fosse o instante a viver de seguida, folheou-o sem se encontrar nesse futuro. Compreendeu então a teimosia com que persistia em mim, fez as malas e pirou-se. Estava sentado numa destas estações de caminho de ferro dos arredores de Lisboa e a brisa erguia-se tão doce que tinha sabor. Sei apenas que chegou um comboio à linha número 4, a mesma em que eu estava à espera e tive apenas a vontade de ficar ali sem pressas, deixando partir o comboio, a acompanhar esse movimento de partida. Mais tarde ou mais cedo estará de volta.

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