sábado, agosto 07, 2004

Dedicatória

Estou a imaginar esses caracois negros, desgrenhados, a esconder dedos a procurar respostas.
É lá que as escondes não é? Sempre suspeitei. Pareceu-me ao ver-te praticar nas fronhas das almofadas.
Xerife de cigarro no canto da boca, a esfumaçar, a esfumaçar as folhas enroladas com veneno de nicotina. Mocho de olhos arregalados, a tornar os oculos ainda mais pequenos, a pigarrear diminutivos e interjeições inpercéptiveis.
Fascina-me quem te ensinou a andar. Esse bipedismo caracteristico faz-te parece ser mais gracioso entre as árvores a roubar maças, não percebo se a terra te treme debaixo dos pés, porque por vezes tenho a impressão de que andas em pulos desordenados, descoooordenado, cabeça para a frente, braços caidos para trás, pescooooço a puxar o resto do corpo. Um gato a quem cortaram os bigodes.
Agora imagino-te a perder a atenção com um ramito que boia no rio. Imagino-te a passar o dedo pelas linhas que te alimentam essa tua fome de esgravetansos, de pedaços de arte que suspeito terem sido elaborados inconscientemente por homens despreocupados, impulsivamente, para que alguém como tu as viesse mais tarde pensar entre caracois negros, arvoredo capilar onde também eu me escondo.
Pois agora tenho-te diante de mim, como sempre, com aquele pedaço de roupa desfraldado, a meter um "zinho" no meu nome, de cigarro na mão, olhar esgazeado, o ombro, julgo que é o direito, levemente descaído, a subita interjeição, as palavras apaixonadas, a pressa de estar noutro sitio qualquer, irrequieto como sempre, eu já preparado para te abraçar, pois quero deixar aqui uma pequena dedicatória à nossa amizade.
E espero que continues a ter aquele sarcasmo mais corrosivo que a lexivia.
(claro que me lembrei daquela cave onde liamos poesia e lavavamos cerâmica com decoração flutuante)

Olha Nós,

Mindsliding

Oh Elsa

Oshipimãopão

vipititapalispis

nãopão

caios modestinus

Pois eu também tenho a certeza, e agora?



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