sexta-feira, agosto 20, 2004

Castanho

"Mire usted en el armario, hombre, a ver si encuentra un traje que no le valga, aunque sea marrón"

In "A Raia de Portugal. A fronteira do subdesenvolvimento"
Antonio Pintado
Eduardo Barrenechea

Sinónimo de pobreza, a não ser que fosse "castanho italiano", em mim o castanho tem cheiro e temperatura. Cheira-me a terra húmida entre os dedos, a cobrir-me a pele do calor terno e meigo, melancólico, doce. O castanho é macio!
É abrigo, como uma cavidade dentro de uma árvore, onde me escondo e os ruídos da noite deixam de me impressionar.É casco de Caravela a partir para o desconhecido com versos e astrolábios, a cortar ondas verdes em espuma branca. É o brilho dos olhos de quem amo. É mobilia que suporta os restos da minha vida, que guarda a parafernália de papeis e música. Castanho é quem se faz notar sem se mostrar. Fica um pouco antes do nocturno, assim como um final de tarde, quente, com uma leve brisa a soprar. Castanho é a madeira dos castanheiros, das castanhas, de corpos Africanos, das pinhas, do tabaco, do pelo de alguns bichos, das escamas de alguns peixes, de algumas rochas, de algumas pinturas, dos desperdicios da plaina, do cabo da faca, é a madeira de alguns dias.
Gosto de castanho! Fica-me bem, enriquece-me na minha pobreza.
Gosto mesmo de castanho!

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