sábado, julho 31, 2004

Dissolvimento

Eu declaro-me horrível
Sou uma sopa enxaguida, repugnante.
Sou o escarro no meio de uma boca apodrecida
A exalar, a vomitar, a provocar
Sou o que Quase Consegue Ser, mas não Sou
Um esquiço de mediocridade, agoniante,
Parca monstruosidade, insulto inócuo à Vida.
A disfarçar, a trepanar, a sufocar
Sou o filho enjeitado de um homem odiado
A insipida gonorreia de uma mulher que odeia
O rubi semi-precioso, indefenivel dejecto odioso
Sou o gorgulho áspero entre as paredes da garganta
Liquefaço-me como uma epidemia, sou a espada que canta.
Organicamente, Lipidamente
AIII!!!! Ergo o mundo contra uma parede
Afio a lâmina no meu corpo viscoso, e virulento, e exangue,
Vomito SANGUE, Vomito SANGUE

E Expungindo o meu lado linfático,
Vou Cantando abertamente pela noite.
Metendo nojo, a loucos, a sóbrios, aos sólidos,
Causando asco, sobretudo, a sombras e reflexos de espelhos. (Muito calmamente)


2 comentários:

Maria disse...

perfeito.
orgânico.
"canibalesco".
contraditório.

a rima interior nos primeiros versos muito bem conseguida.

terrivelmente bem concebido este texto.
(nota o terrivelmente :P )

fico feliz de partir de férias tendo lido estes textos.

até à volta.

(sussurra palavras minhas ao arco-íris ;) )

= )

Artur disse...

Pois eu acho que está mesmo muito mau.
As imagens que crio estão propositadamente exageradas, acabando por não transmitir imagem nenhuma. Há realmente aquela piada das rimas, tem um pouco de movimento, mas é um grande vazio. Foi apenas uma exteriorização de um momento, abusando de vocabulário, presunçosamente. Está mesmo muito mau.
O seguinte que não comentaste, tem uma forma muito menos conseguida em violência e provocação. Não regista o mesmo uso de palavras mais "caras" e no entanto é superiormente mais profundo em sentido/significado. Mas quanto a isso só eu saberei o queria dizer e não foi dito. Aliás, presumo que seja sempre assim com todos os que escrevem.
Boas férias