Sob as estrelas
Hoje deito-me com as estrelas.
Vou dormir no espaço, enrolado nos panos de poeira astral
Serei filho do cosmos sem gravidade, sem peso, a abraçar a Terra
Vou brilhar entre as constelações, de olhos fechados
Vou prender os meus dedos nas rugas dos brilhos de prata
Hoje deito-me num quebrar de ossos.
Da metamorfose da minha pele, restará apenas, nada mais que pó
Do casulo sairá um Homem Espacial, o que conhece o Mistério
Certo no seu sorriso, com um grito a correr os céus
Um conjunto de feixes luminosos, de cores variadas, longos, infinitos.
Hoje deito-me sem sangue.
Nas minhas veias correrá o ego que engolirei, sem ruído
O que era braço levantar-se-á, o que era mão fará um desenho
Suavemente, Misteriosamente, no meio do turbilhão do Caos
Estrelas, Planetas, serão recriados no centro do Universo.
Hoje deito-me onde sou.
A boca que era, o que dizia, o corpo que fui, o que fazia nunca foi especial
O que dedo que era dedo apontará para cima, para o que era sem limites
Tocando, a deslizar, as caudas dos cometas
Incontroláveis, perderão o seu sentido
Ficarei a vê-los rebentar em palcos Cósmicos
De onde nascerão estrelas Vulcânicas
A brilhar sobre cenários de lava encandescente, de veludo.
Quando Hoje é apenas um instante em que me deito,
Amo o que está por debaixo das estrelas! Os pequenos diamantes
As memórias cinematográficas, matinées das horas tardias
Os pequenos assuntos, a partida da porta de casa para a escola primária
O espectáculo, as luzes, os sons, as pipocas feitas na panela da cozinha
Os bilhetes guardados, rasgados, rasurados
Um piano
Os pianos debaixo das estrelas. A martelar notas.
Os eléctricos debaixo das estrelas.
As cidades debaixo das estrelas.
As cidades debaixo das cidades, debaixo das estrelas.
Quando Hoje me deito entre os homens,
Visto o meu fato de terra, homem espacial
Frágil, vulnerável debaixo delas.
Tenho luvas para apertos de mãos, cabelos para quando não sei respostas
Estou equipado com dois pulmões que me permitem respirar na atmosfera,
Sou novo demais para escolher e entrego-me ao suicidio da sorte
Não estou só! Caminho reconhecidamente num estilo próprio
E ardem-me os olhos se olho de frente o Sol
Sei sentir a falta de Sal, e denuncio o que é agoniantemente Doce
Sei amar e sofrer, simultaneamente
Sei acreditar no que não vejo, no que não consigo descrever
Sei seguir entre pedras, árvores, perder-me nas estradas
DasestrelasDasestrelasDasestrelas
Aprendi a linguagem antes incompreensivel
No meu fato terrestre, tão longe de casa,
Aprendi a querer ficar onde Sou
Mais uma vez, sob as estrelas
segunda-feira, agosto 30, 2004
Por debaixo de Hoje
Publicada por Artur à(s) 8:03 da tarde
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4 comentários:
se todos os que escrevem fossem como tu na negação de poesia, a modéstia estaria de mãos dadas com as vidas das palavras. se isto não é poesia e se tu não és poeta a poesia real está num local intocável. gosto de vir aqui e ler estas palavras e saber que não é premeditado. e o facto de não te achares poeta é que te o faz mais ainda.
Vês... não sou a única a achar que és um poeta!
R.
Como podem gostar assim "disto"?
Sabes bem que não é só "isso". R.
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