Pelos dedos, pelos olhos, pelos ouvidos, pelos de rato, há tamanhos ratos imundos nesta cidade! há nela um arco íris de diamantes
algures nesta cidade
há um frenesim de bigodes a roçar no autocarro junto às coxas de uma jovem e pombos citadinos frequentando os prédios bolorentos, há crimes cometidos sem qualquer paixão
e histórias nada interessantes contadas por ilusionistas
algures nesta freguesia se aquecem as brasas para as sardinhas congeladas, moídas, empapadas, semi-cruas a sangrar, e esta cidade, em verdade, era sinceramente formosa quando tinha pessoas a sério, bigodes a sério e se cantava o fado da mesma forma que se cometiam os crimes antigamente. O maior problema, é que os de antigamente, não tiveram filhos. Cruzou-se o povo com a nobreza, com a burguesia, com o clero, com a televisão, com os americanos e as telenovelas brasileiras, com o hamburguer e o pão espalmado. Bastardos. Lisboa antes era rica em Alfaces e agora apodreceu de prédios velhos e interesses imobiliários e qualquer dia, no futuro, as marchas populares terão de recrutar ucranianos, moldavos, chineses e palopes para terem alguém ainda a desfilar. Sim, porque os americanos não o farão, os directores de programação não o farão, o Pinto Balsemão não o faria, só os hamburgers marcham e marcharão. Nesse dia, talvez este povo se sinta abandonado como um dia abandonou o passado. Sardinha moída, empapada. Sardinha moída com coca cola.
segunda-feira, outubro 01, 2007
Ai povo de Lisboa
Publicada por Artur à(s) 10:33 da tarde 4 comentários
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