terça-feira, junho 26, 2007

Tudo termina como começa. Bastam-se as palavras que não se sabem dizer na comoção ocular da retina, nas palmas das mãos humedecidas, na respiração inversa e ofegante. Bastam-se os momentos imaginados quando a realidade não nos é suficiente. Eleva-se a morte e a vida, rompe-se com a rotina. Afundamo-nos de qualquer forma. Caímos nelas, no princípio e no fim.

Doem-me as mãos de lhes faltar algo.

Fiz por cultivar nas minhas costas uma sementeira negra quando julgava ter o gigantismo de carregar o mundo inteiro nelas. Construí os pilares da casa cimentando-os num contorcido sofrimento sem pensar que algum dia o cimento ardesse como papel. Disfarcei a única palavra que sei dizer verdadeiramente com a verdade e mentira numa só melodia. Não podia ter dado mais das minhas entranhas!

Enquanto escrevo outros textos ficam por escrever em palavras indenunciáveis e incompreensíveis, que crescem e se constroem em justaposição e choros turbilhantes, vortiçazes, rasgadramáticos, ensandecedoramenteviolentos por serem palavras sem som, sem cor. Amanhã, no lago estagnado de outro dia qualquer de silêncio, adormecerão os destroços das palavras não ditas.

Enquanto cresço vejo em mim a criança, que como se diz por aí vive em nós, o vagabundo chamado criança, que fica a decorar os momentos de brilhos, os momentos de choro, a mão quente no rosto e a festa na cabeça.

Enquanto penso outros dedos me tocam o meu corpo, a base celestial com que maquilho o meu rosto, vertendo suor sobre esse meu corpo dobrado e dilacerado por uma nova vida, uma nova chama, uma nova esperança, um novo prazer, a velha angústia.

Sulcar a carne não é fácil. Todos o sabemos. São necessário um arado bem forte e uma boa besta. Se o sulco não for fundo a semente não cresce. Apodrece a semente na terra.

Se for demasiado fundo também não é bom pois gasta-se o arado na pedra. Mas se a vala cravada não for funda vai se lá com as unhas até sangrar o suficiente até já não nos doer. Esgotamo-nos ali sobre o chão de hortelã, estendidos, perfumados em pureza cínica até chegar uma enfermeira que nos lamba a pele. Num ápice as estrelinhas são cadentes e a memória é um filme poeirento gravado em BETA CAM.

Depois de amanhã, no lodo estagnado sobre a minha almofado, vestirei o pijama que me coseste como a roupa que não serve para mais nada a não ser guardar o corpo de um pouco de frio. Estarei por aí pregado numa janela, o Salvador, sempre com o mar e palavras indenunciáveis a romper-me os olhos.

Amanhã, depois de amanhã não são Agora! Esta noite rói-me. Esta luz fere-me e parece-me eterna. Fecho-me, escondo-me em mim e encontro-a novamente. É a asfixia da sede. Se esperares verás que um dia será maravilhosa. Tenho a certeza de poder dizer: EU AMO!